Cultura
Moraes Moreira foi o “quinto irmão” no Trio Elétrico de Dodô e Osmar
Armandinho conta como o cantor e compositor fez parte do grupo
Foi no carnaval de 1975 que Moraes Moreira subiu no trio elétrico para cantar. Armandinho Macêdo lembra que ele foi o primeiro cantor a realizar tal feito.
“Ele tinha gravado duas músicas no nosso disco. Como o trio era instrumental, ele entrava e cantava duas, três músicas.”
O álbum que ele cita é o Jubileu de Prata, numa referência aos 25 anos da criação do trio elétrico por Dodô e Osmar. Foi o primeiro registro fonográfico do Trio com a participação de Armandinho (filho de Osmar) e Moraes Moreira.
Outros filhos de Osmar Macêdo integravam o grupo: Betinho, Aroldo e André. E Moraes Moreira na voz do Trio Elétrico de Armandinho, Dodô e Osmar acabou sendo chamado de “quinto irmão” da família Macêdo.
“A Baby (Consuelo) começa a cantar também em cima do trio. Daí vem outras bandas, usando a guitarra baiana que era o marco da nossa sonoridade, e aparece o trio do cantor, com variações rítmicas, que se chamou depois de axé music, com Luiz Caldas e Daniela Mercury.”
Para Armandinho, essa transformação, com o cantor em cima do trio elétrico (antes as apresentações eram apenas instrumentais), conduzida inicialmente por Moraes Moreira, alterou o modelo de carnaval na Bahia e no país.
Eletrificação
Armandinho relata que quando começaram, o trio eletrificado criado pelo seu pai que tinha cavaquinho, violão e percussão, “passa a ser um trio-banda, com contrabaixo e bateria também”.
Acrescenta-se que Armandinho adotou o nome guitarra baiana no lugar do chamado pau elétrico (cavaquinho com afinação de bandolim) que o pai tocava.
Depois de Moraes Moreira sair dos Novos Baianos, uma banda foi criada em 1977 do grupo de músicos que o acompanhava, chamada A Cor do Som, com Armandinho como integrante – um álbum de 40 anos da banda foi lançado no início de 2018.
Naquela época, Moraes Moreira colocou letra em Pombo Correio, antigo instrumental da dupla Dodô e Osmar e que virou um sucesso. A composição é um pasodoble, estilo musical predominante do trio elétrico desde seus primórdios.
Nos relatos do mestre em música e pesquisador sobre a história do trio elétrico, Jorge Moutinho, Moraes Moreira tem participação-chave na transformação do carnaval baiano.
Num depoimento emocionado sobre a morte do amigo no último dia 13, Armandinho ressaltou o papel essencial do cantor e compositor no início de sua carreira.
70 anos de trio elétrico
No último carnaval, o trio elétrico comemorou seus 70 anos. “Quando meu pai cria com Dodô o Trio, começa a mudança o carnaval. Foi uma novidade musical com os instrumentos elétricos. Tudo aquilo soava de forma atrativa, principalmente para o baiano, que não tinha os clubes, e o carnaval era na rua”, lembra Armandinho.
Segundo o músico, os dois sabiam disso e levaram a proposta para a praça Castro Alves, em Salvador, onde na época as pessoas se encontravam para beber. O músico relata que todo mundo depois seguiu essa ideia, inclusivo usando o nome trio elétrico.
O projeto de 70 anos de trio elétrico ia continuar com um trabalho de forró quando a pandemia de coronavírus interrompeu a iniciativa. A proposta era tocar nas festas de São João.
Na carreira solo, Armandinho Macêdo conta que sairá em breve um álbum de seu encontro com o violão de Marcel Powell, num tributo a Baden Powell.
Armandinho recém-lançou álbum com o projeto Brasil Afro Sinfônico tocando músicas clássicas como solista, acompanhado da nova geração do Olodum e a Orquestra de São Petersburgo da Rússia.
O músico ainda apresentou recentemente um trabalho de oito faixas inéditas com a compositora Maria Vasco.
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