Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Monarco, morto aos 88 anos, simbolizou o samba em todos os seus espaços

Compositor, cantor, presença marcante na escola e nas rodas, deixou álbuns gravados e tornou-se ícone do samba

Foto: Divulgação
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Hildemar Diniz, o Mestre Monarco, morreu neste sábado 11, no Rio de Janeiro, aos 88 anos, depois de enfrentar complicações após uma cirurgia no intestino realizada em novembro. É pouco ligar o sambista apenas à Portela, embora fosse presidente de honra da escola e tivesse uma vida umbilicalmente ligada à agremiação.

Monarco frequentou todos os territórios do samba, deixando legado inquestionável ao samba e à música brasileira. Sua voz aveludada e grave era um marco nas rodas de samba em que passava. Quando nelas cantava seus sambas curtos e versos concisos, com letras da vida cotidiana e melodias na palma da mão, não tinha para ninguém.

É autor das clássicas Coração em desalinho e Vai Vadiar (ambas com o já falecido Alcino Correia, conhecido como Ratinho). Mas há outros belíssimos sambas, com sambistas históricos como Paulo da Portela (Quitandeiro), Chico Santana (Lenço), Manacéia (Conselho), Walter Rosa (Tudo Menos Amor), Candeia (Portela é uma Família Reunida) e por aí vai.

Gravou discos, mas dois chamam a atenção por serem seminais do samba autêntico e ligado às suas origens. Um de 1976 (o primeiro), com Dino Sete Cordas no violão, Wilson das Neves na bateria, percussão com Marçal, Eliseu e Luna, entre outros. O ritmo de batucada e o samba na levada do terreiro nas composições de Monarco tornaram o disco antológico.

O outro não é exatamente dele, mas da Velha Guarda Portela, do qual foi o principal membro por décadas: chama-se Passado de Glória (1970). A sua participação com os grandes sambistas portelenses é memorável.

Nascido e rodado na Zona Norte do Rio, Monarco começou a se ligar à Portela na década de 1950, desenvolvendo parcerias com os compositores que lá frequentavam, como Alvaiade, com quem fez Vida de Rainha e teve a sua primeira música gravada, por Risadinha, em 1956.

Nunca ganhou um samba-enredo na Portela. Seu negócio desde o início era fazer sambas de quadra ou também samba de meio de ano. Essa relação com o movimento fora do carnaval é que o firmou na agremiação de Oswaldo Cruz. Seus sambas se originaram e têm fortes raízes nesses encontros e rodas fora do período do Carnaval, que hoje infelizmente tornaram-se raridade nas escolas de samba e um dos motivos de afastamento de sambistas da nova geração das agremiações.

Monarco foi guardador de carros, feirante e contínuo. Também conviveu com penúrias e desavenças da vida suburbana quando jovem. Mas sua nobreza no samba o fez se aproximar de vários artistas do chamado mainstream, para participar de projetos, como Marisa Monte e Criolo. Teve várias músicas gravadas por grandes do samba e fora dele.

Monarco não chegou ao estrelato. Mas participar de todas as frentes do samba – a escola de samba, as rodas de samba (que ele fez até quase o fim da vida) e a arte do fazer samba (compor, cantar, gravar e apresentar) – o levou à mais alta patente possível de um sambista, obtendo reconhecimento além dele.

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