Cultura

Mestrinho e a missão de transformar a sanfona em uma instrumento (mais) popular

Músico vê o instrumento com capacidade de trafegar em vários gêneros

Mestrinho (Foto: Sesc/Divulgação)
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Quando lançou seu terceiro álbum solo no ano passado, Mestrinho registrou algo diferente do que já havia feito. No primeiro trabalho, Opinião (2014), o sanfoneiro gravou vários forrós autorais, com harmonias e melodias renovadas para o instrumento. O segundo, É Tempo para Viver (2017), centrou no tradicional pé-de-serra, com a sanfona bem acompanhada do triângulo e da zabumba.

No terceiro, Grito de Amor (2019), Mestrinho experimentou um som mais pop, com canções autorais. Mas observando atentamente os dois álbuns anteriores, constata-se elementos musicais modernos, com algum toque jazzístico. O músico diz ter interesse em avançar com sua sanfona para outros gêneros.

“O terceiro é uma coisa mais Stevie Wonder. Eu curto muito ouvir música americana. Tinha muito medo de gravar, de a galera chegar matando porque sou um artista de forró. Mas se eu toco em casa, componho, consigo transitar nesse gênero.”

E segue: “Foi um desafio grande jogar esse disco (o último) para o mundo, mas muita gente curtiu e entendeu que eu não vou largar o forró. Não estou fazendo por que vai me fazer ganhar dinheiro, mas porque gosto e também é minha verdade. Não quero ser um artista de um gênero só”.

Mestrinho diz querer popularizar ainda mais a sanfona, chegando a vários lugares: “Para mim não tem restrição”.

Ele tem consciência da tradição que carrega desde criança, mas não quer ficar preso a isso. “Quero expandir o universo, tocar vários estilos. Mas sei da responsabilidade do gênero forró e não abro mão dele por nada. Manter a tradição, carregar as raízes, a simplicidade, mas modernizando para ir adiante.”

Ele afirma que seu terceiro trabalho solo é o “o grito em meio a essas turbulências políticas, preconceitos, todo mundo violento; o amor é a cura para tudo”.

Neste mês, Mestrinho lança um single com um xote já pensando nas festas de São João. Um outro deve sair também, dessa vez no ritmo arrasta-pé.

Sergipe

Mestrinho é de Itabaiana (SE). Quando chegou em São Paulo trouxe a raiz na ponta dos dedos. Família de músicos, vivenciou de perto o xaxado, baião, xote, arrasta-pé, além do forró no seu formato mais eletrizado, como das bandas Aviões do Forró e Mastruz com Leite.

“Muita coisa que vi lá foram das quadrilhas. Era tocado muito o arrasta-pé. Eram grupo de dança maravilhosos, com raiz nordestina, vestimenta local. Marcante para mim”.

Ele considera a música do Nordeste pouco valorizada lá. “Quando cheguei aqui (em São Paulo) vi o movimento do forró e todo mundo curtindo Luiz Gonzaga, conhecendo a discografia da música nordestina. Fiquei muito encantado com isso, que é o valor que o povo jovem estava dando a nossa música”.

Em sua terra natal, Mestrinho conta que só via pessoas mais velhas curtindo forró.

“O próprio pessoal do Nordeste está mudando agora isso por causa desse movimento do Sudeste (de valorização da música nordestina). Na minha época, quando estudava na escola em Sergipe, o forró era motivo muito grande de preconceito. Lá forró de pé de serra era coisa de velho. Mas não pode rotular o pé de serra como coisa de velho, pois tem jovem que curte, tem letras maravilhosas, falando de amor, bem poética.”

São Paulo

O músico, quando chegou em São Paulo em 2006, depois de tocar em lugares até de graça, começou a acompanhar artistas, antes de partir para carreira solo.

Nesse ínterim, formou o Trio Juriti, que contava com sua irmã também, a Thais Nogueira.

Depois teve oportunidade de tocar com Dominguinhos, sua grande referência, Elba Ramalho, Gilberto Gil.

“Tem muito caminho a percorrer. Minha rotina é evoluir. Tocar, criar, estudar, entender o instrumento que é complexo. Sou muito crítico comigo. A sanfona tem a capacidade de emocionar com um toque”.

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