Cultura

Médico-músico vê com tristeza negacionismo e movimento antivacina

Heriko Rocha, que trabalha com Medicina de Família e Comunidade, diz que lidar com cada vez mais casos de Covid-19 tem sido angustiante

Foto: Arquivo pessoal
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“Ver isso tudo acontecer mina a mente do profissional de saúde que está na linha de frente, tendo que lidar com cada vez mais casos à sua porta, colegas e familiares adoecendo e morrendo, famílias em luto e indignadas. Nossa vida mudou com a pandemia e, provavelmente, vai seguir diferente do que estávamos acostumados. Por isso, se faz importante termos a arte, o entretenimento e as pessoas que amamos para nos acalantar nesses tempos difíceis”.

O papel importante da cultura para o médico Heriko Rocha, 36 anos, tem muito a ver com a sua história. Ele começou a tocar violão aos 6 anos, influenciado por uma família musical, e entrou no meio de forma intensa a partir dos 20 anos de idade, tocando nas rodas de samba que surgiam em Rio Branco (AC), onde nasceu.

“Quando comecei a faculdade, a música me amparou como fonte de renda e bem-estar, me acolhendo nos momentos difíceis. Mesmo formado e atuando, continuei a tocar e participar de outros projetos”, conta o médico.

Ele chegou a integrar como tecladista a banda de rock Os Descordantes, conhecida na cena musical acreana, e participou da gravação do segundo álbum do grupo. E também fez muito trabalho de voz e violão na noite, além de tocar contrabaixo em algumas bandas.

Medicina

Formado pela Universidade Federal do Acre em 2011, integrou o Programa Saúde Itinerante do Governo do estado, realizando atendimento em regiões de difícil acesso, incluindo comunidades ribeirinhas e aldeias indígenas, “com uma demanda bastante reprimida”.

Fazia residência de Medicina de Família e Comunidade e foi atuar, em março de 2020, em Gama, no Distrito Federal.

“Trabalhei no setor de síndrome gripal da minha unidade de saúde (pública) até meados de junho, quando a obesidade foi classificada como fator de risco para complicações da Covid-19 (o que o exigiu alterar a rotina). Decidi, junto à chefia, que iria permanecer nos atendimentos eletivos como pré-natal, de hipertensos e diabéticos, fazer o acompanhamento dos pacientes com Covid-19 em teleconsulta e me dispus a realizar treinamento e discussão de casos com os demais profissionais da unidade”.

Pró-ciência

Nesse período de combate ao coronavírus, diz que era imenso o receio de contaminação dele, dos familiares e ainda ver colegas de trabalho hospitalizados em estado grave. Um alívio inicial veio quando tomou há alguns dias a primeira dose da Coronovac.

“Porém, é triste ver o enviesamento político, que, aliado a uma onda de negacionismo até por parte dos próprios governantes, tenta sobrepor as recomendações da comunidade científica e empurrar goela abaixo da população medicamentos com ineficácia já comprovada. Gastou-se dinheiro público e esforço logístico com esses medicamentos (sem eficácia) em detrimento de insumos básicos como máscaras e luvas para profissionais, oxigênio, medicamentos de suporte avançado para emergências, UTI, respiradores…”, diz.

“Ainda por cima negam e desdenham de medidas preconizadas como distanciamento social, uso de máscara e melhorias em higiene. As vacinas hoje aprovadas são resultado de um esforço coletivo mundial, troca de experiências e material acadêmico entre vários centros de pesquisa. Aliadas às medidas que citei, são a única forma até o presente momento de, com o tempo, passarmos pela pandemia”.

E complementa: “É triste saber que o movimento antivacina, baseado apenas no viés ideológico, enfraqueça a imunização. Nós precisamos que a maioria das pessoas seja vacinada para que ela tenha sua eficácia. A pandemia escancarou para sociedade a importância da ciência, pesquisa e saúde pública, e o quanto é evidente a falta de investimento nessas áreas, principalmente no Brasil”.

Em meio ao caos provocado pela pandemia e a necessidade de isolamento, Heriko Rocha tem buscado no pouco tempo que sobra conhecer novos artistas, praticar seus instrumentos e aprender mais sobre produção musical.

O médico chegou a fazer algumas lives tocando violão e cantando. “Mas o intuito maior foi entrar em contato e matar a saudade das pessoas do Acre”, finaliza.

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