Cultura

Me engana que eu gostcho

Que bom seria se a espionagem dos EUA fosse meramente militar…

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Já que o Clinton andou por aqui e aproveitou para falar de rastreamento de informações, me julgo também no direito de comentar o caso, pois se eles tentam enganar, por meu lado tento desenganar.

Que espionagem existe, é o óbvio, e só não sabe quem dormiu o tempo todo e só agora começa a estremunhar para o dia amanhecendo. Notícias sobre espiões, sobretudo quando resolvem mudar de lado (quem dá mais?), filmes de guerra, códigos secretos, interceptações de pombos-correio, quem já não viu tudo isso?

Que a espionagem seja lícita e institucionalizada pela Organização das Nações Unidas já é outra história. Não creio que a moral dos tempos tenha sido esfrangalhada a tal ponto. Ou seja, é ilícita mas consentida. É imoral mas aceita. E há um bom argumento para consenti-la e aceitá-la. Em tempos de guerra, a espionagem é uma questão de vida ou morte, vitória ou derrota.

Em tempos de guerra. Era assim que se falava nos estudos de História. Me lembro muito bem que se distinguiam tempos de guerra de tempos de paz. Coisas do passado. Em nosso pequeno século, o breve século XX, no dizer de Eric Hobsbawm, para facilitar os estudos de História, suprimiram-se os tempos de paz. Todo tempo agora é de guerra.

E se todos os tempos são de guerra, como não concordar com o sr. Clinton quando ele afirma que a espionagem é uma questão de segurança? Concordo plenamente com ele. Acho que todos os leitores concordam.

Mas o grande lance de nossa época foi uma descoberta insólita por que ninguém esperava e jamais poderia imaginar. Aqui no Brasil, varonil, um país com cara de cachorro vira-lata, como queria o Nelson Rodrigues, um país não só pacífico, mas o rei da passividade,  pois aqui se descobriu um inimigo perigosíssimo. Não fossem as armas de extermínio em massa, do Iraque, diria que existe em nosso solo a maior ameaça à segurança mundial.

Claro, vocês que são bem informados, muito mais bem informados do que eu, já se tocaram de que estou falando da Petrobrás. É uma camuflagem de empresa com que pretendemos invadir os Estados Unidos e liquidar com seu American way of life, que tão generosamente eles querem expandir para o mundo todo, ainda que alguns botocudos prefiram sua vida demi sauvage. Sem dispensar a bíblia deles, não é mesmo?

Lembra-me agora uma entrevista ao Le Monde na década de 1970 (quando eu ainda sabia algum francês) na qual Sékou Touré afirmava que nos séculos anteriores o europeu, ao chegar à África, tinha a bíblia e os africanos tinham as terras. Atualmente, ele declarou, nós temos a bíblia e eles têm as terras.

Bem, mas isso já mudou o foco da crônica. O que quero dizer, com tudo isso, é que a espionagem dos EUA é meramente militar, viu? Espionagem comercial e industrial só quem comete são povos bárbaros, sem lei e sem rei.

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