Mariene de Castro tem muitos laços com a cultura afro-brasileira, a natureza, a espiritualidade. São elementos que carrega fortemente em seus 20 anos de carreira. O single Abiã (composição de Jota Veloso e Ulisses Castro), lançado este ano, é um exemplo disso.
“Abiã foi feita quando me iniciei no candomblé há mais de 15 anos. É uma música que fala desse processo de iniciação. Esse mergulho profundo nas águas de Oxum. E eu sou filha de Oxum”, diz. “A música fala profundamente desse momento. Ela fala da minha relação com a espiritualidade. Agora, tanto tempo depois, eu a registrei”.
Nessa linha, durante a pandemia, a cantora lançou o single Guerreiro Caçador (Toninho Geraes e Toninho Nascimento) que aborda sobre Oxossi. Nesse período, diz ter montado vários repertórios, e que foram apresentados por meio de lives.
“Fui fazendo online e a cada mês um show diferente. Aquilo foi me motivando. Foi me trazendo um acervo de shows e discos tão bonitos para fazer”. Os projetos têm nomes como Marinheiros de Água Doce, Olhos de Oxum, Povo de Santo.
Mariene acredita muito na sua missão espiritual e que “deixa fluir”. E a música foi a conexão. “Está além da religião. Espiritualidade não é religiosidade. Não é uma estratégia de por ser uma artista eu canto isso”, afirma.
Ela conta que na pandemia acabou conseguindo produzir muito: “Esse conteúdo que tem me encorajado”.
Intérprete do repertório de Clara Nunes, sua primeira live na pandemia foi justamente do disco Ser de luz (2013), em homenagem a cantora mineira. “Foi a coisa mais estranha que você pode imaginar. Eu cantando para uma tela sem retorno de público”, lembra. Mas o fato de ter tido muita gente assistindo, estimulou seguir com outros projetos na internet.
Sobre a crise sanitária, afirma que ela colocou em três dimensões tudo já se vinha assistindo. “Potencializou o caos que o Brasil já vivia. E ficou amostra essa desigualdade social”, diz. “Tudo que a gente viveu, vive e viverá é fruto do que cada um é. A gente está tendo uma lente de aumento. Está tudo às claras. É Amazônia que pega fogo. É o povo que passa fome. É a vacina que não chega. As mulheres que são mortas todos os dias. É o preconceito, é o racismo”.
Segundo a cantora, no entanto, “a coisa que mais machuca é a falta de humanidade. É desesperador”. Para ela, “tem requinte de crueldade”.
Assista à íntegra a entrevista:
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