Lucas dos Prazeres expressa o papel transformador da arte-educação

Cria do Morro da Conceição, no Recife, o seu envolvimento em ações socioculturais no local foi o impulso para se tornar um versátil artista

Foto: Somdagem/Divulgação.

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Tudo começou quando a avó comprou no pé do Morro da Conceição, no Recife, um terreno de 300 metros quadrados. Ela viveu ali como uma conceituada rezadeira e curandeira.

Depois de sua morte, no ano seguinte, a sua casa foi dedicada às ações comunitárias e de arte-educação. Virou o Centro Maria da Conceição, que completa 40 anos em 2022. Atualmente, a associação trabalha prestando consultoria a grupos e entidades, oferece cursos, palestras e oficinas, produção de eventos culturais, montagem de espetáculos e apresentações artísticas.

“Toda a minha família foi criada no Morro da Conceição e no entorno. Ali [no Centro], tive a oportunidade de me dedicar à cultura popular, a interpretar, dançar e a tocar diversas manifestações, além da educação normal”, lembra Lucas dos Prazeres, 37 anos, neto de Maria da Conceição.

O artista morou por 30 anos no Morro, mas teve que sair de lá para facilitar a mobilidade de sua mãe, filha da famosa rezadeira recifense e que já integrou o Balé Popular do Recife.

Lucas dos Prazeres é percussionista, bailarino, cantor e compositor. Tornou-se conhecido por acompanhar o inesquecível Naná Vasconcelos, e ainda participar da SpokFrevo Orquestra e das bandas de Elba Ramalho, Alceu Valença, entre outras. Já apresentou programa de televisão.

“Toda a minha trajetória teve impulso do Centro Maria da Conceição. Sempre numa linguagem de rua”, diz. No bairro onde nasceu, integrou diversos movimentos culturais, incluindo bateria de escola de samba e grupo de frevo.


Ele lembra que a formação na associação é voltada a oferecer prática cultural que, ao mesmo tempo, se transforme em fonte de renda para o aluno. “Aprendizado da prática cultural, no fundo, quer dizer também de que forma vamos sobreviver com isso”.

 

Orquestra

Um DVD chamado Lucas & Orquestra Dos Prazeres, lançado em 2018, expressa o vigor desse multiartista criado no núcleo de uma associação comunitária.

A Orquestra dos Prazeres, coordenada por Lucas, juntou músicos de grupos ligados à associação e ex-alunos, além de amigos. A apresentação reuniu 30 percussionistas no palco.

 

 

Cada faixa tem um convidado. Uma exaltação à consciência negra, à religiosidade afro e ao resultado do trabalho comunitário e social desenvolvido pelo Centro Maria da Conceição.

A Orquestra dos Prazeres completa 10 anos em dezembro. Lucas pretende gravar um álbum comemorativo. Um trabalho seu autoral já está a caminho. Terá o nome de Traçado, revela Lucas em primeira mão.

No final de 2019, o músico recebeu convite da Companhia Barca dos Corações Partidos e mudou-se para o Rio de Janeiro. O grupo estava montando o musical de Jackson do Pandeiro, com direção de Duda Maia.

Mas quando a peça ia fazer estreia em março, veio a pandemia. O musical então foi apresentado em novembro na plataforma online, com temporada. Todos os membros da companhia são multiartistas, que leem texto, fazem coreografia, cantam e tocam diversos instrumentos.

Lucas desenvolve ainda um projeto solo chamado Som da Vida, que explora toda sua versatilidade. Com som percussivo, declama texto e poesia, canta canções suas e de domínio público do cancioneiro popular afro-indígena e ainda dança.


O projeto começou em 2013 e não tem roteiro definido. “Ele é uma representação da minha vida e enquanto eu tiver tendo experiência artística, ela vai influenciar nessas performances. Assim, uma apresentação nunca será igual a outra”, finaliza.

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