Lô Borges vê pandemia piorar e comenta retorno da parceria com irmão

Depois de nove anos, músico volta a compor com Márcio Borges e lança excelente álbum só com composições da dupla

Foto: Rodrigo Brasil/Divulgação

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Lô Borges vinha fazendo um disco a cada ano. Em 2019, lançou o Rio da Lua com músicas em parceria com Nelson Angelo. No início de 2020, foi a vez do álbum Dínamo, com Makely ka.

“Ai veio a pandemia. Não queria ficar parado em casa, triste. Quando estava lançando discos estava viajando, fazendo turnê, levando minha vida de músico. Eu vou fazer isolamento social, mas vou produzir como vinha fazendo”, conta o mineiro.

Dessa inquietação veio a brilhante ideia de resgatar a parceria com o Márcio Borges. “Fiz as contas e não compunha nada com meu irmão havia nove anos”.

Do retorno surgiu um dos grandes álbuns lançados neste ano. Muito Além do Fim (Deck) demonstra a capacidade de a canção mudar os ares para melhor em meio a um clima ruim que vivemos.

Márcio é o primeiro e o principal parceiro de Lô Borges. Cerca de 70% das músicas gravadas pelo segundo são assinadas com o primeiro. É, sem dúvida, uma das duplas de compositores mais importantes da MPB.

Segundo Lô, para o álbum, só tinha uma composição pronta antes de começar a produção. Trata-se de Terra de Gado, composta em 1999. A composição Piano Cigano Lô tinha feito a melodia, mas Márcio pôs letra somente ano passado para o álbum.


Aliás, essas duas músicas encerram o disco e diferente das outras oito canções de Muito Além do Fim, a melodia foi feita no piano. As músicas restantes Lô criou no violão.

 

 

Na veia

Nos trabalhos anteriores, Nelson Angelo e Mekely Ká enviaram as letras para o mineiro musicar. Tinha sido uma exceção. Com Márcio, Lô combinou o que sempre fez na carreira: mandou a música para colocar letra.

Segundo ele, em todas as letras o irmão acertou na veia. “É comum entre os parceiros mudar uma estrofe, mudar uma palavra, uma frase. Mas todas as letras que ele mandou não alterei nenhuma palavra”, afirma.

“O disco é mais visceral. Fiz esse disco com mais pulsação, groove. Talvez seja o disco mais sotaque rock da minha carreira”, diz.

Lô e Márcio Borges não se encontram pessoalmente há dois anos. As composições saíram em trocas de mensagens pelo WhatsApp. Antes da pandemia, os dois compunham tudo presencial e na maioria das vezes de forma rápida: melodia feita de manhã, letra a tarde e a música pronta a noite. Esses encontros eram tão comuns que ele recorda de uma história no início da carreira.

“Estavam o Márcio e o Fernando Brant (1946-2015) na mesma festa lá em casa. Eu no piano, ninguém prestando atenção, e aí disse: pessoal, acho que fiz uma musica aqui. Os dois chegaram perto e falaram: toca aí. Toquei e aí eles disseram: vamos fazer a letra agora”.

A composição que saiu é uma das obras-primas da música brasileira de todos os tempos: Para Lennon e McCartney (Eu sou da América do Sul / Eu sei, vocês não vão saber / Mas agora sou cowboy / Sou do ouro, eu sou vocês / Sou do mundo, sou Minas Gerais).

Lô tinha apenas 17 anos e apaixonado pelos Beatles. Milton Nascimento eternizou a composição em seu quarto álbum solo, lançado em 1970, abrindo o registro fonográfico com a canção.

Lô Borges tem seguido a risca o distanciamento social. Nem a casa da família tem ido, em Belo Horizonte, onde vive. O disco novo foi gravado cumprindo todos os protocolos sanitários.


“E tem que levar mesmo a sério. O negócio não estava bom e parece ter piorado. As pessoas estão enlouquecidas. Querem trazer a Copa América para cá”, diz, lembrando que a terceira onda se avizinha.

Ouvir o álbum Muito Além do Fim é um bom momento para desanuviar desses tempos difíceis. No trabalho, Lô Borges (violão) foi acompanhado por Henrique Matheus (guitarra), Thiago Corrêa (contrabaixo, teclado e percussão) e Robinson Matos (bateria). Ele assina a produção ao lado de Henrique Matheus e Thiago Corrêa. A faixa-título tem participação de Paulinho Moska.

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