Cultura
Live musical é pouco entusiasmante, mas no isolamento tornou-se necessária
Shows presenciais seguem insubstituíveis, mas o fenômeno na web merece estudo
No início da noite, nota-se na barra superior do aplicativo Instagram um número expressivo de avisos de lives. Ao mesmo tempo, no Facebook, começam a surgir notificações de outras dezenas de apresentações musicais na rede social.
Isso revela que a arte ainda segue viva e pulsante, apesar de todos os incômodos e dificuldades com a pandemia.
Nesses encontros virtuais, alguns artistas tocam a troco de nada, parte passa o chapéu virtual ou pede ajuda para instituições assistenciais, e uma minoria e de forma pontual, se apresenta a base de cachê, de patrocínio.
Para o internauta que está há tanto tempo dentro de casa, com sérias restrições de ir às ruas, essas lives musicais são um alento. Mas é um sopro de entusiasmo nesse confinamento angustiante e sem data para acabar.
Do outro lado, são raros os artistas que não deixam escapar inquietude com a situação, ainda que o repertório tente ser o mais para cima possível.
Nesse caldo, tornam-se visíveis as dificuldades de a esmagadora maioria, que se apresenta no gogó e com um instrumento musical sentado no sofá da sala, com a transmissão de imagem e som gerada por um celular.
Mesmo para as lives de maior produção, com músicos de apoio, câmeras e som ajustado na mesa de canais, não se é possível esconder a frieza de palco. A sensação é de algo insuficiente – talvez a falta de energia do público.
A conclusão é de que as milhares de lives de música diárias são em seu conjunto pouco entusiasmantes, apesar dos esforços de artistas para se manterem ativos, presentes e dispostos a entreter o cidadão aflito.
Nesse período de, ao mesmo tempo, marasmo e caos, porém, as apresentações musicais nas redes sociais são uma das raras opções existentes, úteis e necessárias dentro de casa. Elas têm sido capazes de propor prazer em meio ao isolamento social.
Mas a internet é uma plataforma digital. Está longe de mover os desejos maiores, as emoções e os sentimentos instigados pela experiência presencial, na relação músico-plateia.
Avalia-se a permanência das lives, mesmo com o fim da pandemia. É mais provável que a transmissão ao vivo de música pelas redes sociais, seja num bar ou casa de espetáculo, aumente, algo que já acontecia, embora de forma tímida e até precária.
Por certo, um dos temas mais intrigantes da arte na pandemia do novo coronavírus será entender o papel e os efeitos financeiros a psicológicos das lives musicais no período.
Mas o show, a apresentação, as rodas musicais, um banquinho e um violão presenciais seguirão insubstituíveis. Agora quando teremos oportunidade de ver isso de novo é impossível prever.
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