Cultura

Líder no streaming, forró eletrônico tem indústria parecida ao sertanejo

Chama a atenção quando o estilo musical subiu de posição na audiência nas plataformas de música durante a pandemia

Aviões do Forró. Foto: Max Haack/Agecon Salvador.
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Quando foram apresentados os estilos musicais líderes de audiência nas principais plataformas de música na internet no ano passado, notou-se crescimento da presença do forró eletrônico em uma lista dominada pelo sertanejo, o funk e o pop internacional.

O resultado dessa mesma lista no primeiro semestre de 2021 mostrou nova expansão do forró eletrônico. Entre os dez principais nomes de artistas citados, numa relação do Spotify, a mais popular plataforma de streaming no País, estão Barões da Pisadinha (este na liderança entre todos), Wesley Safadão e Zé Vaqueiro.

A indústria do forró eletrônico, nos moldes que se conhece hoje, surgiu há cerca de 30 anos. Empresários controlam bandas e músicos, interferem no repertório, agendam shows e lançam músicas. O esquema é parecido com o sertanejo, em que a busca pelo sucesso da noite para o dia a qualquer preço é uma obsessão.

O forró eletrônico abandonou a tradicional formação do forró com sanfona, triângulo e zambumba e incorporou outros instrumentos. O interessante é que parte dos músicos que foi para o forró eletrônico se originou do forró pé de serra, considerado raiz – quando o rótulo musical pagode surgiu nos anos 1990, alguns pagodeiros também tinham formação em rodas de samba tradicional, em que só tocava Cartola, D. Ivone Lara e Martinho da Vila.

A primeira banda de repercussão criada dentro do subgênero foi a Mastruz com Leite, no Ceará, com a integração de guitarra, baixo e dançarinas no palco. De letras fáceis, o empresário da banda criou uma rede com mais de uma centena de rádios no País na qual divulgava as músicas por meio de aluguel de espaço nos veículos de comunicação – prática conhecida como jabá.

Várias bandas foram criadas a partir da empresa gestora da Mastruz com Leite, que editava as músicas, gravava e distribuía. O controle sobre os músicos e a troca deles foi e é constante. A própria Mastruz já mudou mais de duas dezenas de vezes de vocalista – uma diferença em relação ao sertanejo, em que as duplas e cantores são a própria marca e não a banda.

Com o forró eletrônico já espalhado pelo Nordeste, de Sergipe surge Calcinha Preta, trazendo referências do pop. O grupo despontava alguns anos após o aparecimento do Mastruz com Leite. Uma penca de cantores participaram do Calcinha Preta.

Na virada do século, explode o Aviões do Forró também dentro de um poderoso esquema de marketing. Do grupo, saiu Xand Avião. Percussões diversas ganham mais peso na instrumentação musical.

Tempos depois, Wesley Safadão acrescenta ao forró eletrônico, já com todas as suas influências, elementos do sertanejo. Na esteira de Safadão, aparece Jonas Esticado.

Mais recentemente, os Barões da Pisadinha trazem para frente do palco o que já existia, inclusive em botecos dos grandes centros urbanos: a música de forró acompanhada de teclado.

Outro subgênero do forró surge: piseiro ou pisadinha. Na nova onda, emerge também Zé Vaqueiro. O nome de quem comanda os grupos de forró contemporâneo leva a grife de manager – no sertanejo, são os chamados escritórios.

O forró modernizou-se e potencializou o Nordeste no cenário musical. Como elemento da cultura de massa, o subgênero forró eletrônico já chegou lá. Resta saber o que ficará de herança e referência cultural.

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