Cultura

Leila Pinheiro exalta obra sobre Guinga e Renato Russo

Com 40 anos de palco, intérprete já lançou três álbuns em 2020, e mais um deve sair a partir de suas lives aos sábados

Créditos: Alexandre Moreira/Divulgação
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Era dia 31 de outubro de 1980 quando ela se apresentou no Theatro da Paz, em Belém, em show produzido por um dos principais artistas paraenses da época, seu amigo incentivador e decisivo na sua estrada, professor de piano e músico denso, Guilherme Coutinho (1942-1983). Foi a partir dessa data que Leila Pinheiro conta o início de sua carreira profissional. “Entrei no lugar amplamente meu”, lembra ela quando subiu naquele palco há 40 anos. Depois de alguns shows na capital paraense, decidiu mudar para o Rio de Janeiro para fazer a carreira decolar.

O primeiro álbum solo (1983), que leva seu nome, saiu de um acontecimento inusitado. Leila relata que foi assistir a uma gravação do coro de um trabalho de Maria Creuza.  Uma das coristas se atrasou e ela assumiu seu lugar depois que o produtor Raymundo Bittencourt perguntou se ela cantava. “Nunca tinha entrado em estúdio. Dali, fui convidado para fazer o meu primeiro disco”.

Nesse primeiro álbum, embora tenha gravado grandes compositores da época, a intérprete cita que “nada aconteceu” com ele. O trabalho saiu de forma independente.

Em 1984, partiu em uma viagem para a Colômbia com o Zimbo Trio. Segundo a compositora, foi o momento que lhe preparou, sem saber, para ser eleita cantora revelação, no ano seguinte, no Festival dos Festivais, com a música Verde, obra-prima de Eduardo Gudin e Costa Netto. 

Trabalhos marcantes

Daí foi um pulo para o então diretor artístico da Polygram, Roberto Menescal, levá-la à gravadora. Em 1989, fez Bênção, Bossa Nova, que seria inicialmente um trabalho voltado ao mercado japonês pelos 30 anos do gênero, mas acabou tornando-se um sucesso no Brasil.

Menescal foi hábil em perceber em Leila Pinheiro uma voz rejuvenescida e “ensolarada” para uma Bossa Nova um tanto desgastada. “Fiquei dois anos viajando (por conta do álbum). Fui me descobrindo como artista nesse trabalho. Não era mais a Bossa Nova de voz e violão, mas com baixo, bateria, percussão”. Outros trabalhos vieram, já se desprendo da Bossa Nova que a tinha lhe dado estrada inicial na música.

Dos inúmeros registros que fez ao longo desse período, ela destaca dois como marcos importantes na carreira, além desse lançado em 1989. O primeiro foi o álbum ?feature=oembed" frameborder="0" allowfullscreen> style="font-weight: 400;">Catavento e Girassol (1997), com músicas de Guinga e Aldir Blanc. O último já era um compositor badalado, mas o primeiro, quase desconhecido.

“Esse álbum trouxe Guinga com todo tamanho que ele tem. Um compositor brasileiro grandioso”, diz ela. O trabalho vendeu quase 100 mil cópias. O próprio Guinga participa do álbum no violão e fazendo arranjos. Outro trabalho que ela aponta como relevante na carreira é um sobre obra de Renato Russo (2010). “Era o avesso do avesso, de tudo que vinha realizando. Um cara do rock. Mas queria as palavras, o poeta. Queria que as pessoas ouvissem sem a pauleira do rock”.

Em 2020

Leila Pinheiro já agregou esse ano mais três álbuns à sua carreira. Um é com Antonio Adolfo, Vamos Partir Pro Mundo (DeckDisc). O convite foi para atualizar o repertório de composições do pianista com Tibério Gaspar. “Era tudo que um intérprete quer”.

O outro trabalho lançado esse ano é fruto de shows realizados com Roberto Menescal (guitarra) e Rodrigo Santos (baixo) sobre outro poeta do rock nacional já falecido, Cazuza. O trabalho saiu pela Som Livre. “Perguntei quem ia cantar nesse projeto. Ficou aquele silêncio. Aí Menescal disse: você”. Leila canta e toca piano nesse projeto.

Por fim, o terceiro é o Cenas de Um Amor (Azul Music), feito com o grupo Seis com Casca, disponibilizado nas plataformas digitais de música nesse mês de agosto. Além de autores brasileiros, a gravação consta obras de compositores eruditos, como Mahler, Fauré, Dvórak, Ravel, Kurt Weill, todas traduzidas e adaptadas por Carlos Rennó.  “Foi um trabalho difícil de botar voz, já que eles fazem um trabalho essencialmente instrumental, e que agora tinha uma solista. Foi um desafio. O álbum tem alguns compositores que jamais cantei e ouvi. É um trabalho muito minucioso”.

O grupo Seis com Casca é composto por Bruno Monteiro (piano), Potiguara Menezes (guitarra), Diogo Maia (clarinete, clarone), Nikolay Iliev (violino), Mauricio Biazzi (baixo acústico) e Nath Calan (vibrafone e bateria).

Leila planeja mais para comemorar 40 anos de carreira, apesar da pandemia. A cantora diz querer reunir o resultado de suas lives semanais de voz e piano. “Cada sábado é uma história. Fiz duas sobre Sueli Costa e gostei, fiquei feliz com o resultado. Pensei em fazer um resumo disso”. Outro projeto que pretende colocar na rua é com Zé Pedro, do selo Joia Moderna. Sete canções estão gravadas e mais quatro já estão escolhidas. “Pelo menos mais um trabalho sai nesse ano”, afirma.

No que se refere a pandemia, Leila Pinheiro diz estar “muito assustada” com o momento. “Estamos à mercê de loucos e irresponsáveis. A pessoa não me representa e o que traz junto é o desgoverno, uma insanidade. O país está muito perdido. Ninguém acredita em nada”, finaliza.

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