Kiko Dinucci abre espaço na música com desconstrução e independência

Novo trabalho do músico usa o violão para reverberar o momento

Kiko Dinucci (Foto: Aline Belforf/Divulgação)

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Kiko Dinucci é um dos mais inovadores artistas da música desde o primeiro trabalho, o Padê (2007), com Juçara Marçal. Depois vieram outros com parceiros como Douglas Germano e nos grupos Metá Metá e Passo Torto, em um total que passa de uma dezena de álbuns em conjunto.

Onde Kiko se envolve pode-se esperar montagens e desmontagens de gêneros musicais com autoridade e independência de rótulos. O primeiro solo lançado em 2017, o Cortes Curtos, é ruidoso com narrativas do cotidiano de aflição.

“É uma desconstrução do jeito de tocar punk. Cortes Curtos são sambas disfarçados de punk”, define o músico.

Em Rastilho, novo trabalho solo recém-lançado de Kiko Dinucci, o padrão voz e violão ganha outra leitura. “O violão sobrepõe as vozes, que vem como uma espécie de alavanca para empurrar o violão ainda mais para frente”, diz.

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“Conduzo o violão pelo jeito do baixo (notas mais graves ou mais baixas do acorde do violão), com notas agudas como resposta a esse baixo, além de ataques rítmicos. Não é violão de solista. É um violão que fica girando com os baixos. Como é na música africana.”


Essa preponderância do violão de nylon de seis cordas de Kiko em Rastilho é também um reflexo do momento.

Concepção

O trabalho somente de vozes e violão, segundo Kiko, foi pensado em sua forma no meio do ano passado, quando sofreu uma fratura no pé e teve que ficar um tempo de molho em meio a necessidade de tomar fortes medicamentos.

Rastilho é a peça feita de osso do violão que fica em cima do cavalete que apoia a corda, para a mesma ser esticada e soar no corpo do instrumento.

“O Brasil só de notícias ruins, em combustão. O rastilho de pólvora também serve para acionar uma bomba. Os sentidos se casam com esse projeto. Fiz (o álbum) para reagir a todo esse momento com arte.”

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O trabalho de 11 faixas, sendo nove composições de Kiko Dinucci, tem participação em algumas músicas do coro formado por Graça Reis, Dulce Monteiro e Maraísa. Ava Rocha, Ogi (parceiro de Kiko em uma faixa) e Juçara Marçal também participam do registro.

O álbum tem muita influência do samba e do samba-afro, mas no jeito do autor: “Como tive vivência no samba desconstruo a partir dele, mas respeitando, dialogando”.

Inimigos

O cantor, compositor e instrumentista Kiko Dinucci é um representante forte da cena independente e assiste as dificuldades do que o envolve faz tempo, com as casas pequenas de música ao vivo fechando ou sem qualquer vislumbre de apoio (as que sobrevivem).

“Hoje, temos um governo de destruição total. Então tem o inimigo da cultura na Cultura, o inimigo da educação na Educação, o inimigo do meio ambiente no Meio Ambiente. Cada ministro trata de implodir o seu ministério. É um projeto nazista”.

Segundo ele, nessa situação a cultura parece até secundária. “Mas é a que dá suporte a um grito de sobrevivência no meio de tudo isso. Ainda assim, os artistas continuam criando”.

A capa de Rastilho, com foto de Pablo Saborido, traduz o momento, segundo Kiko Dinucci, com frutas apodrecendo e uma cartela de remédio vazia.

A produção de Rastilho é do próprio músico, com gravação 100% em processo analógico sob a responsabilidade de Bruno Buarque e André Magalhães.


A opção pelo analógico encorpa o violão no jeito de tocar de Kiko Dinucci nesse trabalho inovador, que ressalta o papel de instrumentista do músico, além de suas explosivas composições apresentadas há mais de uma década.

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