Cultura

Joyce Moreno expõe em livro as virtudes da carreira independente

Cantora, compositora e instrumentista conta histórias da MPB, das insatisfações com as gravadoras, da arte de compor e a mulher na música

Foto: Pedro de Moraes
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Livro de memórias é sempre um desafio para o autor, pois ele pode se trair em vários momentos em suas reflexões. Joyce Moreno consegue se safar disso nos seus escritos pelo fato de ter optado pela independência para construir sua carreira.

Em Aquelas Coisas Todas: Música, Encontro, Ideias, lançado no final do ano passado e dividido em duas partes – na primeira, ela republica os textos do primeiro livro Fotografei Você na Minha Rolleyflex, de 1997 -, a cantora, compositora, arranjadora e instrumentista conta com desenvoltura histórias antigas na música e de si. Sem amarras com o mercado, a obra ganha relevância pela liberdade com que os temas são tratados.

Na segunda parte do livro, com os escritos inéditos da nova obra, Joyce Moreno se revela mais afiada e, ao mesmo tempo, serena, de quem chega aos 73 anos com bons serviços prestados à MPB.

Joyce tem voz afinada, exprimida com feminilidade e estilo. Seu tom e ritmo ganha grandeza com seu violão muito bem dedilhado. A forma e o jeito, com forte intersecção com a Bossa Nova, a levou a ter extensa carreira internacional. Talvez uma das maiores entre as mulheres musicistas do País.

No livro, ela fala das passagens mundo afora e dos encontros com referências da música, como Jon Hendricks a Gil Evans. No Brasil, o convívio com figuras do porte de Vinicius de Moraes, com que fez vários shows, Gonzaguinha e Milton Nascimento.

Joyce, desde cedo, já se encontrava com o primeiro time da MPB, mas não por acaso. Além de primar pelo repertório, compunha e compõe muito bem – tem centenas de músicas gravadas por outros artistas, como Elis Regina e Maria Bethânia. No livro, inclusive, diz preferir ser reconhecida com compositora.

Tanto na parte um como na parte dois do livro, ela fala da insatisfação com gravadoras na condução de sua carreira. A imposição e a forma com que a indústria gostaria de lhe impulsionar no mercado a fizeram  tomar o rumo da independência. Isso lhe criou desafios, mas também imprimiu a adoção de projetos bastante originais.

A cantora-compositora fala pouco de seus inúmeros discos. Não se preocupa com ordem cronológica. São vários recortes da vida no livro Aquelas Coisas Todas – o título, aliás, é o nome de uma composição do amigo Toninho Horta.

A passagem como estagiária de jornalismo no caderno de cultura no então importante Jornal do Brasil até tornar-se artista foi curta.

A vida dos namoros e casamentos, do papel de mãe e a mulher engajada é tratada de forma sutil, como sua poesia e forma de cantar. Joyce não se absteve quando convocada para lutar pelo País democrático e de se posicionar em prol dos músicos.

Na parte dois, conta sobre imaginações que as pessoas desenvolvem com artista em cena e, depois, como isso se desemboca quando um tem encontro com outro de forma casual.

“Conheço bem os poderes afrodisíacos e românticos do palco, tapete mágico feito para iludir, criar o sonho. Aquelas luzes sobre a pessoa, o som de uma voz na gravação, o desejo secreto de que aquela música, com que a pessoa se identificou tanto, tivesse sido feita para ela…Tudo isso junto pode alimentar todo tipo de fantasia”, escreve no livro quem já passou poucas e boas e não se equivoca mais, seja ou não no showbiz.

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