Cultura
John Neschling é demitido do Theatro Municipal
O maestro-titular e diretor artístico da instituição paulistana foi afastado após novas suspeitas de uso do dinheiro público
Após veiculação de novas suspeitas de malversação do dinheiro público no Theatro Municipal de São Paulo (TMSP) praticadas nos últimos meses, mesmo estando a administração da casa sob investigações desde dezembro de 2015, seu regente-titular e diretor artístico, John Neschling, foi destituído do cargo, conforme comunicado distribuído à imprensa na tarde desta segunda-feira pelo Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (IBGC), organização social responsável pela administração do teatro. O TMSP consumiu, em 2015, R$ 99 milhões do orçamento anual da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
Desde maio último, os atos do maestro à frente do Municipal têm sido objeto de investigação por parte do Ministério Público e também por uma Comissão Parlamentar de Inquérito instituída na Câmara de Vereadores de São Paulo. Em novembro, Neschling demitiu do cargo de diretor-geral da Fundação Theatro Municipal o administrador José Luiz Herencia, que, conforme o músico, teria desviado cerca de 15 milhões de reais no orçamento da casa entre 2013 e 2015. O rombo comprometeu boa parte da programação de 2016, com o cancelamento de óperas e espetáculos.
Em fevereiro, os bens de Herencia foram bloqueados na Justiça e a Promotoria do Estado fez apreensões de documentos no IBGC, resultando no afastamento de seu diretor, William Nacked, suspeito de conluio com a administração sob suspeita. No mesmo mês, por indicação da Prefeitura, o advogado Paulo Dallari (ex-chefe de gabinete de Fernando Haddad) assumiu a administração do IBGC como interventor, mas demitiu-se em 15 de agosto último, após saber que o prefeito Fernando Haddad não havia acatado sua recomendação de afastamento imediato de Neschling da direção do teatro, a fim de assegurar o andamento das investigações em curso.
Em agosto, a Justiça autorizou ao Ministério Público a quebra de sigilo dos e-mails de Neschling, enquanto a CPI da Câmara requeria a condução coercitiva do maestro a depoimentos e a apreensão de seu passaporte pela Polícia Federal, bem como a suspensão integral de seus pagamentos. No último dia 1°, a Justiça determinou, no entanto, que a CPI não pode requerer apreensão de passaporte.
A gota d’água para a demissão do maestro foram denúncias vazadas no mês passado à imprensa por informantes do corpo de funcionários do TMSP. A primeira das imputações versava sobre superfaturamento na produção do espetáculo El Amor Brujo, do grupo catalão La Fura dels Baus, apresentado em julho. Conforme depoimento prestado em julho à Câmara pelo diretor do Fura dels Baus, Carlus Padrissa, o manejo do superfaturamento teria sido praticado por um agente contratado pelo IBGC em 2015, o argentino Valentin Proczynski, que também representa interesses particulares de Neschling, procedimento eticamente questionável.
Na última quarta-feira, 31 de agosto, noticiou-se, finalmente, em nova denúncia anônima à imprensa, que em outubro de 2015 o maestro trocara emails com o produtor chileno Thomas Yaksic, que viajou à Alemanha e ao Leste Europeu em outubro de 2015 às expensas do TMSP, com a principal finalidade de prospectar nova colocação para John Neschling em teatros de capitais como Zagreb, como consta nessa correspondência.
O IBGC anunciou, ainda, a manutenção do calendário do Theatro para este ano. No próximo dia 10, o Balé da Cidade de São Paulo, atualmente sob a direção da veterana Iracity Cardoso, estreia o espetáculo Titã, com coreografia do italiano Stefano Poda, estreia mundial baseada na sinfonia homônima de Gustav Mahler. A orquestra da casa participa ao vivo, com regência do maestro-assistente, Eduardo Strausser.
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