Cultura
Jafar Panahi: “Escrevi o roteiro enquanto sofria de uma depressão”
Estreia no dia 3 o filme “Cortinas Fechadas”, realizado secretamente e sem autorização do governo iraniano. Assista ao trailer
Uma casa à beira-mar. As cortinas estão fechadas e as janelas, cobertas de preto. Dentro dela, um homem está escondido com seu cachorro. Ele escreve um roteiro de cinema. De repente, uma jovem misteriosa aparece. Ela se recusa a ir embora, o que irrita o escritor. Mas, ao raiar do dia, outra chegada mudará a perspectiva de todos.
Atrás de cortinas fechadas, em uma isolada vila costeira, três personagens dão vida a um dilema cruel: como viver a vida quando ela se torna insuportável?
Com Cortinas Fechadas, que estreia no Brasil no próximo dia 3, Jafar Panahi e o codiretor Kamboziya Partovi misturaram mais uma vez realidade e imaginação, ficção e documentário, borrando as fronteiras convencionais do cinema. Aqui, eles conseguem metamorfosear um lugar comum num espaço em que pessoas reais se encontram com a fantasia, com personagens ficcionais, todos os dias.
Assista ao trailer:
O roteiro vai da comédia ao teatro do absurdo, do banal do cotidiano à metáfora, numa vila em que o cineasta, também personagem de sua obra, é assombrado por figuras que podem ser nada mais que facetas de sua própria personalidade.
Personagens aparecem e desaparecem com uma facilidade incômoda num “filme fantasma” no qual as aparições acontecem com naturalidade e obviedade rotineiras. É por meio dessa simplicidade aparente que o filme revela seu tema: a vontade de viver ou morrer de um artista impedido de trabalhar.
Apesar do filme nunca deixar a vila, o mundo externo se faz presente de diversas maneiras. A sociedade iraniana está presente, for a da tela, ameaçadora e obscura: notícias de TV, vozes, apitos policiais durante a noite, um celular desativado, um trabalhador relutante a se comprometer com o cineasta – sinais concretos que expressam a impossibilidade de rejeitar o mundo externo.
Jafar Panahi e Kamboziya Partovi tocam, geralmente com divertida fluidez, na ambiguidade de personalidades espelhadas e partidas, na habilidade de imagens filmadas de controlar a realidade e rearranjá-la como ficção. As imagens retrocedem e avançam numa miríade quase infinita de espelhos e reflexos.
“Escrevi o roteiro enquanto sofria de uma depressão, o que me levou a explorar um mundo irracional, longe das convenções lógicas. No entanto, por ter melhorado repentinamente durante as filmagens, tive que me esforçar bastante para não deixar a razão tomar conta do que meu estado melancólico havia me ajudado a alcançar”, disse Panahi. “A melancolia assombra esta história, na qual cada personagem reflete um outro e a fronteira entre ficção e realidade se borra. Cortinas Fechadas alterna gêneros e tem histórias dentro de histórias para destacar porque fazer filmes é uma necessidade na vida de um cineasta: é uma necessidade imperiosa de mostrar a realidade do mundo em que vivemos.”
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