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Imagens em busca do inconsciente

Durante a pandemia, o diretor Marcelo Gomes parou de sonhar. Dessa experiência, nasceu Criaturas da Mente

Imagens em busca do inconsciente
Imagens em busca do inconsciente
Parceiros. O neurocientista Sidarta Ribeiro conduz a narrativa do documentário ao lado de Marcelo Gomes – Imagem: Sylara Silverio
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Um criador de imagens e sons perde a capacidade de sonhar. Esse é o mote de Criaturas da Mente, documentário do pernambucano Marcelo Gomes em cartaz nos cinemas desde a quinta-feira 8.

Enclausurado pela pandemia, em 2020, quando estava prestes a iniciar um novo trabalho, o cineasta passou a ter dificuldades para dormir e percebeu que não estava mais sonhando. A inquietação permaneceu mesmo quando o isolamento social foi sendo amenizado. ­Gomes decidiu então investigar os mistérios do subconsciente e tentar compreender o que poderia estar causando a ausência da dimensão onírica durante o repouso.

Nessa caminhada, enquanto puxa vários fios e referências, Gomes registra a própria busca, fazendo de Criaturas da Mente um processo de tentar desvendar alguns princípios enigmáticos da existência humana. Isso o leva ao neurocientista Sidarta Ribeiro, brasiliense radicado no Rio Grande do Norte e uma das maiores referências brasileiras em estudos do cérebro.

Sidarta segue em cena como um parceiro do diretor. Concede entrevistas, media conversas e passa a acompanhar o realizador no aprofundamento do assunto. O pesquisador apresenta a Gomes a rotina de um laboratório que estuda as atividades mentais dos polvos; reflete sobre o impacto do subconsciente em cerimônias afrodescendentes; conduz conversas com o escritor e ambientalista ­Ailton Krenak; e, enfim, apresenta o conceito das “criaturas da mente”.

Marcelo Gomes faz um tipo de filme-reportagem ensaístico em que se busca o que se pode chamar de epifania. A certa altura, isso se torna literal, pois o diretor chega aos estudos sobre a ayahuasca como tratamento alternativo à depressão e estimulador de mecanismos inconscientes que ajudam a revelar a individualidade oculta ou abafada de cada um. O próprio Gomes submete-se ao chá amazônico, tornando-se personagem ativo da narrativa.

O caráter pessoal de Criaturas da ­Mente é coerente com a filmografia de Marcelo Gomes – tanto nas ficções quanto nos documentários. O caráter investigativo sempre marcou as escolhas do diretor, que usa o cinema como forma expressiva de compreensão sobre si e o mundo.

Aqui, a curiosidade pelos sentidos dos sonhos – mais, precisamente, pela ausência deles – amplifica a busca interna e convida o espectador a compartilhar consigo as descobertas sobre as possibilidades infinitas das terminações cerebrais. •

Publicado na edição n° 1361 de CartaCapital, em 14 de maio de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Imagens em busca do inconsciente’

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