Cultura
Ícone dos cinemas novos
Jean-Pierre Léaud se tornou um símbolo da Nouvelle Vague e ator disputado pelos cineastas de vanguarda de todo o mundo. Depois, entrou em declínio junto com o cinema de autor
por José Geraldo Couto
Jean-Pierre Léaud apareceu de modo explosivo para o mundo aos 14 anos, como o problemático adolescente Antoine Doinel, alter ego de François Truffaut em Os Incompreendidos (1959), filme de estreia do diretor. Nascia ali um ator singular e uma persona das mais marcantes do cinema moderno.
Filho de uma atriz e um roteirista, Léaud atendera a um anúncio publicado por Truffaut nos jornais e fizera um teste para o papel. Entre mais de cem candidatos, foi escolhido por sua espontaneidade e notável talento para a improvisação. Encarnaria o personagem de Doinel em quatro outros filmes do cineasta ao longo dos anos 1960 e 1970.
Atuou também em oito longas de Godard, entre eles Masculino-Feminino e A Chinesa, o que o tornou um ícone da Nouvelle Vague e ator disputado pelos cineastas de vanguarda de todo o mundo. Trabalhou com Pasolini (Pocilga), Bertolucci (O Último Tango em Paris), Skolimowski (Dialog), Glauber Rocha (Der Leone Have Sept Cabezas).
Ativista de esquerda, estava em Brasília em 1968 e discursou para centenas de estudantes por ocasião da invasão da UnB pelo exército.
Nos anos 1980, Léaud, com sua atuação distanciada, sua fala em staccato, seu tique de passar a mão no cabelo, ficou deslocado num cinema que se tornava cada vez mais convencional. Entrou em declínio junto com o cinema de autor.Seu retorno, a partir dos anos 1990, em obras de herdeiros tardios da Nouvelle Vague, como Olivier Assayas, Bertrand Bonello e Pierre Garrel, tem um sabor de homenagem e nostalgia. Irônico, autorreferente, aos 67 anos Léaud é uma espécie de peça viva de museu, o museu do cinema moderno.
DVDs
Pocilga (1969)
Duas histórias sobrepostas. Num passado indefinido, um jovem canibal (Pierre Clementi) mata o pai e come sua carne. No presente, o filho revoltado (Léaud) de um industrial alemão prefere dormir com os porcos a conviver com os humanos. Alegoria perturbadora de Pasolini, tem ainda no elenco Ugo Tognazzi e Marco Ferreri.
Domicílio Conjugal (1970)
No penúltimo filme, com o Antoine Doinel (Léaud), o personagem está casado com sua amada Christine (Claude Jade), mas sucumbe a casos com uma japonesa e com a mulher de seu patrão numa loja de sapatos. Christine descobre as infidelidades do marido e eles se separam
por um tempo. A série terminaria com Amor em Fuga (1979).
A Mãe e a Puta (1973)
Em Paris, o indolente Alexandre (Léaud) passa os dias lendo, flanando e assediando mulheres. Vive com Marie (Bernadette Lafond) um relacionamento aberto, até que conhece a enfermeira promíscua Veronika (Françoise Lebrun). Drama denso de Jean Eustache, espécie de ressaca da liberdade sexual da Nouvelle Vague.
por José Geraldo Couto
Jean-Pierre Léaud apareceu de modo explosivo para o mundo aos 14 anos, como o problemático adolescente Antoine Doinel, alter ego de François Truffaut em Os Incompreendidos (1959), filme de estreia do diretor. Nascia ali um ator singular e uma persona das mais marcantes do cinema moderno.
Filho de uma atriz e um roteirista, Léaud atendera a um anúncio publicado por Truffaut nos jornais e fizera um teste para o papel. Entre mais de cem candidatos, foi escolhido por sua espontaneidade e notável talento para a improvisação. Encarnaria o personagem de Doinel em quatro outros filmes do cineasta ao longo dos anos 1960 e 1970.
Atuou também em oito longas de Godard, entre eles Masculino-Feminino e A Chinesa, o que o tornou um ícone da Nouvelle Vague e ator disputado pelos cineastas de vanguarda de todo o mundo. Trabalhou com Pasolini (Pocilga), Bertolucci (O Último Tango em Paris), Skolimowski (Dialog), Glauber Rocha (Der Leone Have Sept Cabezas).
Ativista de esquerda, estava em Brasília em 1968 e discursou para centenas de estudantes por ocasião da invasão da UnB pelo exército.
Nos anos 1980, Léaud, com sua atuação distanciada, sua fala em staccato, seu tique de passar a mão no cabelo, ficou deslocado num cinema que se tornava cada vez mais convencional. Entrou em declínio junto com o cinema de autor.Seu retorno, a partir dos anos 1990, em obras de herdeiros tardios da Nouvelle Vague, como Olivier Assayas, Bertrand Bonello e Pierre Garrel, tem um sabor de homenagem e nostalgia. Irônico, autorreferente, aos 67 anos Léaud é uma espécie de peça viva de museu, o museu do cinema moderno.
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Pocilga (1969)
Duas histórias sobrepostas. Num passado indefinido, um jovem canibal (Pierre Clementi) mata o pai e come sua carne. No presente, o filho revoltado (Léaud) de um industrial alemão prefere dormir com os porcos a conviver com os humanos. Alegoria perturbadora de Pasolini, tem ainda no elenco Ugo Tognazzi e Marco Ferreri.
Domicílio Conjugal (1970)
No penúltimo filme, com o Antoine Doinel (Léaud), o personagem está casado com sua amada Christine (Claude Jade), mas sucumbe a casos com uma japonesa e com a mulher de seu patrão numa loja de sapatos. Christine descobre as infidelidades do marido e eles se separam
por um tempo. A série terminaria com Amor em Fuga (1979).
A Mãe e a Puta (1973)
Em Paris, o indolente Alexandre (Léaud) passa os dias lendo, flanando e assediando mulheres. Vive com Marie (Bernadette Lafond) um relacionamento aberto, até que conhece a enfermeira promíscua Veronika (Françoise Lebrun). Drama denso de Jean Eustache, espécie de ressaca da liberdade sexual da Nouvelle Vague.
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