Cultura

Herdeiros de Rosa

O tempo não para, quem para somos nós. A frase é de Maria Sebastiana, a dona Bastu, no filme Girimunho, de Helvécio Marins e Clarissa Campolina, que estreia nesta sexta, 27

Belo e singelo. Dona Batsu, personagem de si mesma às voltas com o rito do luto
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O tempo não para, quem para somos nós. A frase é de Maria Sebastiana, a dona Bastu, no filme Girimunho, de Helvécio Marins e Clarissa Campolina, que estreia nesta sexta, 27. Há mais dessa sabedoria popular no cativante trabalho da dupla mineira. Aos 83 anos, dona Bastu conversa com o rapaz Batatinha quando este lhe cobra não ter ido às lágrimas pela morte recente do marido, o ferreiro Feliciano, tipo festeiro dado a muitos tragos de cachaça. “Pra quê?”, replica ela. “Eu e ele fizemos um acordo para não chorar a morte do outro.” Mas a viúva precisará de apoio nesse rito de luto e a aproximação com Maria do Boi, uma vizinha de mesma idade que toca instrumento antigo local, será um deles, além das lembranças.

Girimunho se estrutura no limite entre o documentário e a ficção. A ideia surgiu a Marins durante viagem pelo interior de Minas, ao ouvir a expressão do título que significa redemoinho. Nesse gênero híbrido, convocaram essas mulheres isoladas numa cidadezinha esquecida,  de herança escravocrata. Mais que antropológica, a abordagem revela uma afinidade com o universo de Guimarães Rosa, tão a propósito do girimunho e da verve das senhoras. Na conversa com CartaCapital no Festival de Veneza do ano passado, onde o filme foi exibido em sessão paralela, os diretores contaram que foram elas, especialmente Bastu, a liderar o processo de filmagens. Interpretam a si mesmas e somam fatos de suas vidas, num mistério que faz parte do encantamento desse singelo filme.

O tempo não para, quem para somos nós. A frase é de Maria Sebastiana, a dona Bastu, no filme Girimunho, de Helvécio Marins e Clarissa Campolina, que estreia nesta sexta, 27. Há mais dessa sabedoria popular no cativante trabalho da dupla mineira. Aos 83 anos, dona Bastu conversa com o rapaz Batatinha quando este lhe cobra não ter ido às lágrimas pela morte recente do marido, o ferreiro Feliciano, tipo festeiro dado a muitos tragos de cachaça. “Pra quê?”, replica ela. “Eu e ele fizemos um acordo para não chorar a morte do outro.” Mas a viúva precisará de apoio nesse rito de luto e a aproximação com Maria do Boi, uma vizinha de mesma idade que toca instrumento antigo local, será um deles, além das lembranças.

Girimunho se estrutura no limite entre o documentário e a ficção. A ideia surgiu a Marins durante viagem pelo interior de Minas, ao ouvir a expressão do título que significa redemoinho. Nesse gênero híbrido, convocaram essas mulheres isoladas numa cidadezinha esquecida,  de herança escravocrata. Mais que antropológica, a abordagem revela uma afinidade com o universo de Guimarães Rosa, tão a propósito do girimunho e da verve das senhoras. Na conversa com CartaCapital no Festival de Veneza do ano passado, onde o filme foi exibido em sessão paralela, os diretores contaram que foram elas, especialmente Bastu, a liderar o processo de filmagens. Interpretam a si mesmas e somam fatos de suas vidas, num mistério que faz parte do encantamento desse singelo filme.

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