Cultura

Graça Braga canta a pluralidade da obra de Martinho da Vila

Cantora, em seu terceiro álbum, lava a alma sobre um dos mais nobres brasileiros

Graça Braga
O primeiro trabalho de Graça, de 2007, foi de músicas inéditas do pessoal da nova geração do samba de São Paulo. Foto: Samuel Iavelberg O primeiro trabalho de Graça, de 2007, foi de músicas inéditas do pessoal da nova geração do samba de São Paulo. Foto: Samuel Iavelberg
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Martinho da Vila é um compositor diverso. Sua música caminha por vários temas representativos do cancioneiro nacional, usando a proveniência do samba como fio condutor de sua obra. A cantora paulista Graça Braga gravou um belo álbum ao vivo, recém-lançado, reunindo essa riqueza do repertório de Martinho.

O trabalho começa com o Samba dos Ancestrais (com Rosinha de Valença) e No Embalo da Vila, os aspectos da ligação Brasil-África. Graça Braga vai, em seguida, ao ritmo de roda com Fim do Reinado.

Surge, então, magistralmente no trabalho, Bandeira da Fé (com Zé Katimba), e a recorrente demonstração de luta de Martinho em sua obra: “Para reconquistar os direitos / Temos que organizar um mutirão / Derrubar os preconceitos e a lei / Do circo e pão”.

O samba-enredo em Sonho de um Sonho (Com Rodolpho e Graúna). Continua à luta em Tom Maior e o seu refrão combativo: “Vai ter que amar a liberdade / Só vai cantar em tom maior / Vai ter a felicidade / De ver um Brasil melhor”.

A particularidade do partido alto dada por Martinho da Vila está bem representada em Plim Plim. É a vez então de Graça Braga entrar nas composições mais amorosas do sambista: Maré Mansa (com Paulinho da Viola), Grande Amor, Danadinho Danado (com Zé Katimba) e Samba da Cabrocha Bamba.

A cantora, na sequência, descortina o cotidiano de afirmação negra das composições de Martinho da Vila em Nego Vem Sambar (“Nesta praia de sol tão intenso / Tanta gente a se bronzear / Onde há branco querendo ser preto / E mulato querendo esnobar), É Hora de Pintar e a emblemática Disritmia (“Me deixe hipnotizado pra acabar de vez com essa disritmia…”). No álbum, Graça ainda interpreta a mulher em Cidadã Brasileira.

Agora é a vez de Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade, a composição que sintetiza o projeto de Martinho da Vila em forma de um samba pujante, de liberdade, das tradições.

O álbum de Graça Braga encerra com o pout pourri de quatro músicas. A primeira é Batuque na Cozinha, música de João da baiana eternizada por Martinho da Vila. As outras três, a brasilidade onde tudo termina em samba: Balanço Povo, Segure Tudo e Casa de Bamba (“Na minha casa todo mundo é bamba, todo mundo bebe todo mundo samba…”).

Identidade

Graça Braga, no álbum sobre O Samba de Martinho da Vila (selo Discobertas), idealizado e produzido por Thiago Marques Luiz e com capa (sempre magnífica) de Elifas Andreato, lava a alma sobre um dos mais nobres brasileiros.
“Martinho da Vila é meu ídolo desde a adolescência. Vi nesse trabalho a melhor forma para homenageá-lo”, diz ela. Graça já tinha registrado a obra de outro gigante da resistência negra expressada em forma de música: Candeia (2011).

“Seu modo de compor, sua forma de abordar nossa realidade, suas composições sobre o amor, perdas e temas do nosso cotidiano, enfim, sempre me fascinaram”, conta sobre Candeia, que foi seu segundo álbum de carreira.

“Realizei essas homenagens a ambos, tanto pelo o que representam para nossa arte e ao samba, quanto para reverberar em suas obras como autênticos representantes e defensores de nossa ancestralidade, e do valor da contribuição da cultura do nosso povo negro para a formação da identidade cultural brasileira”.

O primeiro trabalho de Graça, de 2007, foi de músicas inéditas do pessoal da nova geração do samba de São Paulo. Ela participou ativamente no começo da carreira de redutos de samba conhecidos, como Samba da Vela e o Berço de Samba de São Mateus.

Depois, administrou um bar na Praça Roosevelt, no centro de São Paulo, em que realizava uma roda de samba intitulada Você Vai Se Quiser, de 2004 a 2018, que foi ponto de encontro da nata do gênero.

A cantora e compositora Graça Braga é uma dessas grandes damas do samba que pede passagem com respeito, de quem pisou em terreiros, conviveu com mestres e sabe valorizar e difundir quem de fato nos representa.

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