Fruto maduro

Marcos Bernstein devolveu à Meu Pé de Laranja Lima a vocação para um relato tocante e universal da infância

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As sucessivas adaptações no cinema, tevê e teatro podem servir de índice de popularidade de uma obra literária. Meu Pé de Laranja Lima, clássico juvenil de José Mauro de Vasconcelos lançado em 1968, talvez seja exceção ao prescindir desse parâmetro para medir seu sucesso, alcançado rapidamente. As revisitas por certo engrandeceram sua empatia e a testaram no tempo. Caberá agora certa expectativa na nova versão que chega na sexta 19 aos cinemas, dirigida por Marcos Bernstein, roteirista de Central do Brasil e diretor de O Outro Lado da Rua.

Em princípio, há razão em cogitar a quem se destina essa fábula de cunho memorialístico do autor, que se oferece num primeiro momento ingênua para então se mostrar mais crítica e amarga. O realizador não só reafirma esse traço como o aprofunda. Torna mais duro o embate do indisciplinado e imaginativo Zezé (João Guilherme Ávila) com o mundo adulto, em especial com o ríspido pai desempregado, a quem culpa pela pobreza.

Lançado em plena radicalização da ditadura, momento em que ganha sua primeira versão cinematográfica por Aurélio Teixeira, o livro foi utilizado pelos dois lados do embate político. Serviu a um por seus valores familiares e a outros pela demonstração de rebeldia do protagonista e seu conforto na liberalidade de um velho português esclarecido (José de Abreu). Bernstein retirou a pátina teórica da história e sua possível alusão a um contexto específico. Devolveu à obra, com afeto genuíno de apreciador, a vocação para um relato tocante e universal da infância.

Genuíno afeto. Zezé (João Guilherme Ávilla), às turras com a vida

MEU PÉ DE LARANJA LIMA

Marcos Bernstein


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