Sabadão fora da folia, na casa de amigos, comi muito bem. Na sexta, admito que também jantei de maneira espetacular e bebi igual.
No sábado ficou por minha conta levar um peixe. Tenho perto de casa uma boa feira para esse assunto. E lá me fui e de lá levei até a casa de meu amigo um namorado lindo (não vale rir ou pensar besteiras). O bonitão foi aberto, como dizem na feira, na traição, pelas costas. Adianto que nem sempre é a melhor maneira. Facilita a vida de quem vai servi-lo, posto que aquela espinha de desenho animado é totalmente retirada. Por outro lado, o risco de o peixe ficar mais seco aumenta.
Invenção zero, como pedem os seres que nascem sabendo nadar. Fomos construindo o prato a duas línguas.
– Azeite?
– Claro. E um pouco de alho.
– Inteiro é melhor.
– Cebolas.
– Uma pimentinha bem picada.
– Pouco, mais para colorir e animar a boca.
– Alecrim?
– Sempre com parcimônia.
– Tomates, temos?
– Com um pouco de orégano seco e sal da Camargue.
E teve a parte luxuosa: na base umas boas doses do austríaco Bründlmayer, branco.
Isso fica como sugestão para você tentar repetir: ao assar um peixe, coloque um bom vinho branco na forma. Some o vinho com os caldos do peixe e demais temperos e você terá uma base saborosíssima.
O peixe foi coberto com um bom papel-alumínio. Como assim?
Explico: meu amigo viaja muito e costuma trazer da Europa um papel-alumínio com peso semelhante ao do chumbo. Sim, acredite que existem papéis com diferentes gramaturas. Chegaremos a esse ponto? Duvido.
Mas, antes do peixe, ele havia feito algo de extrema simplicidade: pimenta-cambuci e jiló cortados em quartos e levados ao forno com bom azeite e fleur du sal. Só isso? Só. Uma delícia verdadeira que você não vai provar em nenhum restaurante do País.
Foi com esse mote que a conversa tomou outro rumo.
Ambos concordamos que ir a restaurantes se tornou penoso demais para o bolso e nada estimulante para o paladar.
Acredito que, durante os últimos anos, tivemos aquele avanço bacaninha na qualidade das matérias-primas e na qualidade dos chefs. A exemplo dos queijos nacionais, demos grandes passos, mas, no momento de dar os passos finais, estacionamos na mediocridade.
– Ir comer fora pra comer a mesma coisa que eu como em casa e deixar um caminhão de dinheiro?, comentou meu amigo. Não!, comentou uma amiga que pouco sabe sobre o mundo da gastronomia, mas tem enorme bom senso.
E seu comentário, somado à conversa de sábado, me fez lembrar os tempos idos: íamos a um restaurante para celebrar algo. E lá chegando os pratos todos nos enchiam de encantamento e dúvidas sobre qual escolher. Aquilo que nos era oferecido em casa não se fazia.
E como estamos hoje? Pagando uma grana alta para comer pior do que comemos em casa.
Nos últimos 15 anos, isso não fazia muita diferença. Comer fora tornou-se obrigatório para qualquer família de classe média alta. Para a classe “triple A”, o ideal era ser chamado pelo nome em todos os restaurantes caros da cidade, todos os dias e quase todas as noites, por maîtres, garçãos e manobristas, que naquele tempo recebiam gorjetas e nada mais.
Cansei, e sinto que aumenta o número de pessoas razoáveis que comungam do meu estresse.
Ter a opção de um macarrãozinho na manteiga para a criança ou para aqueles dias em que nada apetece, eu acho interessante. Mas essa pasta não pode custar caro.
O que esse cenário me leva a pensar? Que os restaurantes e os chefs precisam nos animar, precisam nos surpreender. Ou, o que é ainda mais complicado e difícil: oferecer um feijão com arroz que ninguém consegue reproduzir em casa.
Agora, o que fazer diante de duas gerações que se alimentam de peixes crus com arroz sem gosto e não sabem sequer preparar em casa um spaghetti alho e óleo?
O meu lado cínico sugere que os restaurantes aumentem muito seus preços e não se preocupem com a qualidade. As novas gerações citadas continuarão a achar isso o máximo.