Cultura

Filmes de Chorão e da banda Gritando HC se unem numa só tribo urbana

Os dois documentários lançados no streaming têm o ponto de partida o skate, fenômeno de uma juventude que vive entre a rebeldia e o consumo

Foto: Eduardo Biermann/Divulgação
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Os filmes Chorão: Marginal Alado (92 min), de Felipe Novaes, e Punk Rock, Skate e Underground: a História do Gritando HC (52 min), de Alexandre Mapa, possuem em comum o fato de apresentarem músicos sob a estética da mesma tribo urbana: os skatistas.

Os dois documentários lançados neste ano e disponíveis no streaming se desenrolam a partir do movimento do skate dos anos 1990, composto por uma juventude marcada entre a rebeldia e o consumo.

Sim, Chorão foi um cara famoso, junto com a banda Charlie Brown Jr., e a Gritando HC (HC vem de hardcore) é um grupo até hoje em atividade, mas absolutamente underground de São Paulo.

Posto isso, Chorão foi, antes de mais nada, skatista. Vestiu-se a vida inteira como tal. Seu enorme público de adolescentes e jovens tinha identidade com esse universo. O Donald, que criou a Gritando HC, trouxe a cultura do skate para dentro de sua banda como algo indissociável.

O skate teve enorme impulso no País nos anos 1980 e tanto Chorão como Donald sofreram influência dessa geração. O movimento tornou-se popular e expunha rebeldia e traços da contracultura, mas foi marcado também pelo desejo de consumo, ainda que ligado diretamente ao skate, bem diferente de tribos urbanas anteriores, como a dos hippies, distantes da estrutura formal de aquisição de bens.

Chorão teve grife de roupa própria e Donald manteve loja na Galeria do Rock, no centro de São Paulo, associado à banda e principalmente ao skate.

Chorão era intempestivo. Compunha incansavelmente, mas tinha um temperamento muito difícil. Cresceu, ganhou dinheiro, brigou com a banda (e outras pessoas), deprimiu-se e consumiu drogas até a overdose levá-lo em 2013. O documentário segue essa narrativa, ainda com depoimentos fortes do baixista Champignon – suicidou-se meses depois da morte do parceiro de banda e dias depois de gravar para o filme.

Donald se foi em 2001, depois de problemas no fígado – no filme não afirma ser por influência de bebida alcoólica. A banda Gritando HC segue na estrada. No documentário dedicado ao grupo, relatos das inconveniências e separações de sempre entre membros de banda e a vida de um projeto musical absolutamente independente.

Chorão e Gritando HC têm um som agressivo, de letras insurgentes e também românticas, para um público muito jovem e um tanto rebelde. Os filmes mostram essa relação bem agitada com a plateia.

É uma tribo. Urbana e contemporânea. Absolutamente inquieta. Os documentários esboçam do show business à apresentação de garagem, o movimento da molecada tendo a música como elemento redentor – ainda que nos bastidores tragédias e êxitos caminhem juntos dentro do mesmo sistema. Os documentários são lições sobre a tribo urbana.

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