Cultura

Filme e mudança de País exprimem a arte peregrina de Yamandu Costa

Andanças na Argentina com o músico que o ensinou violão e a vida em Portugal revelam a universalidade do músico

Yamandu Costa. Foto: Rodrigo Lopes/Divulgação
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“Assim é a vida de artistas e poetas peregrinos. Dos caminhos sempre sem destino. Repleto de chegadas e partidas”. Estas palavras são ditas por Yamandu Costa, na abertura do documentário Dois Tempos (88 min, 2020), de Pablo Francischelli, que tem percorrido festivais de cinema e narra uma viagem do violonista com o seu mestre, o argentino Lucio Yanel.

A vida de viajante, sem rumo e de idas e vindas, é referida a Yanel por Yamandu, que o encontrou ainda criança em sua própria casa em Passo Fundo tocando guitarra castelhana. “Ali foi um passo para tocar violão”, resume o violonista, que é hoje um dos maiores expoentes da música brasileira no mundo – tornando-se ele próprio um profissional sempre envolvido em jornadas.

O documentário parte da casa de Clary Costa, cantora e viúva do também músico Algacyr, pais de Yamandu. De lá do interior do Rio Grande do Sul, em um motorhome, eles seguem rumo a Corrientes, cidade natal de Yanel, onde farão show em um festival.

A viagem é nostálgica. Não precisa nem dizer a sublimidade que é quando os dois se põem a tocar juntos em alguns momentos do filme. Fora as gigs do documentário, há de se exaltar a forma respeitosa e simples com que Yamandu interage com a sua história, as pessoas e o que o cerca, mesmo sendo uma das maiores expressões do violão no mundo.

A motorhome com os violonistas percorre a região das Missões no Rio Grande do Sul para atravessar a fronteira, por balsa, para a província de Corrientes, na Argentina. No caminho, Yanel e Yamandu passam por um pequeno evento aberto de música em San Carlos e vão a Ituzaingó, onde o violonista argentino encontra amigos numa roda com acento forte de chamamé, o estilo musical daquela província.

Vão à terra do lendário personagem da cultura popular Gauchito, até hoje reverenciado na Argentina, embora tenha morrido há mais de um século. Passam em Mantilla, local em que Yanel morou quando criança. Enfim, chegam ao festival na capital daquela região. O documentário é uma exaltação a arte no seu estado puro.

Portugal

Yamandu Costa e Lucio Yanel lançaram um maravilhoso disco em 2001 (o primeiro álbum da carreira de Yamandu), com o mesmo nome do documentário. O violonista brasileiro construiu uma discografia grande desde então. Muitos álbuns são em parceria, uma característica de sua obra.

Nos últimos anos, o número de trabalhos se intensificou. Segundo ele, trata-se de uma adaptação à nova realidade. “Antigamente, tinha que ter um espaçamento muito grande entre um álbum e outro. Às vezes um ano. Com essa nova dinâmica, mudou”, diz, se referindo à internet e as plataformas de música.

Mas tem dúvidas para o tipo de música que faz, se o formato de lançar singles, que virou febre no mercado, é o melhor. “Tudo é muito pulverizado. A gente está vendo ainda o que vai ser”.

De qualquer forma, ele tem lançado algumas canções avulsas em suas redes sociais. Os álbuns, porém, ele não largou. Só este ano já foram três e a previsão é de lançar mais dois, até o fim de 2021.

O último álbum, chamado Caminantes, foi com bandoneonista argentino Martín Sued e o guitarrista português Luís Guerreiro. “É uma homenagem a península ibérica”, diz.

De acordo com Yamandu, ele queria que o trabalho tivesse um repertório que os três instrumentos navegassem, numa mescla de tango, guitarra portuguesa e choro. “Essas linguagens se misturam. Ficou muito bonita a sonoridade que saiu dessa formação”.

Mais da metade das músicas é do violonista brasileiro. “Fiz [as composições] especificamente para esse trabalho, para que os instrumentos interagissem e ficasse bem natural”.

Apesar de estar desenvolvendo vários projetos na internet, como vídeos biográficos, histórias, músicas e técnicas, ressalta que “a apresentação ao vivo continua sendo insubstituível e não deve sair de moda”.

Aliás, Yamandu já voltou a viajar, fazer shows na Europa. Morando há um ano e meio no exterior, afirma que “a vida profissional estava exigindo muito e então foi para Portugal para ficar mais central”.

Com agenda até o fim do ano, retoma a vida peregrina de um artista brasileiro no mundo.

DOIS TEMPOS – trailer from DobleChapa on Vimeo.

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