Cultura

Estudo compara papel socioeducativo da roda de samba com quilombos

Ex-cantora de pagode baiano, Rose Belo apresenta em tese de mestrado o papel socioeducativo dos movimentos de samba de Salvador

Estudo compara papel socioeducativo da roda de samba com quilombos
Estudo compara papel socioeducativo da roda de samba com quilombos
Samba do Kilombo. Foto: Divulgação
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Rosa Bárbara Pinheiro, a Rose Belo, cantou aos 18 anos no Gera Samba, conjunto de pagode baiano que deu origem ao popular grupo É o Tchan!. Depois, participou de projetos folclóricos da Bahia. Integrou ainda a banda de percussão Levada do Pelô.

Rose hoje é graduada em Letras, com especialização em história social e cultura afro-brasileira e mestre em educação pela Uneb (Universidade do Estado da Bahia). Sua dissertação de mestrado foi publicada recentemente em livro com o nome O Samba É Meu Kilombo: Tramas de Identidade, Solidariedade e Educação em Rodas de Samba de Salvador (Dialética Editora).

A palavra Kilombo tem origem bantu, grupo etnolinguístico africano, e foi aportuguesa no Brasil para quilombo, local onde africanos e descendentes fugidos na época da escravidão se refugiavam. Nessas comunidades se formavam movimentos de resistência e solidariedade.

A autora compara esses espaços, que iam além da luta contra o sistema escravagista, com representações em seu ambiente de manifestações religiosas e de canto e dança, com os movimentos de samba da capital baiana.

Quatro deles são estudados no livro de Rose: Seja Também um Sambista, Samba de Mesa no Gogó, Grupo Botequim e Galera do Simbora. Esses ambientes são tratados como lugares de socialização, de práticas identitárias coletivas, de habilidades artísticas (canto, dança e a execução de instrumento musical), de interações solidárias e de trocas de informação, atividades muito parecidas com as que ocorriam nos quilombos do Brasil Colônia e Império.

As ações solidárias desses movimentos – muitas vezes o ingresso é trocado por doação de alimento – com a comunidade e entidades assistenciais são tratadas amplamente no trabalho, com relatos tanto de quem promove o engajamento quanto de quem é assistido nesses projetos.

Educação não formal

O processo educacional nessas rodas de samba é abordado no âmbito da argumentação acadêmica. Os movimentos sociais, como as rodas de samba, são ferramentas de formação e construção da cidadania, de enriquecimento e aprendizado das tradições.

A autora faz boa análise nesse campo. Distante da sala de aula, esses locais colaboram para educação emancipadora, que levam as pessoas a agirem e pensarem com autonomia, valorizando a cultura de referência e ancestral – algo que status quo tem pavor pois é contraponto ao seu sistema imediatista e irreflexivo.

A autora Rose Belo é criadora do Espaço Cultural Descida do Kilombo no bairro de Cajazeiras, em Salvador. O Samba do Kilombo realizado no Espaço, começou de maneira informal em 2010, mas no ano seguinte já ganhara estrutura, recebendo gente de fora.

Deixando de lado o pagode baiano de onde ascendeu na música, Rose firmou o local como ambiente de samba de raiz, partido-alto e samba do Recôncavo, ressaltando as origens da cultura afro-brasileira.

“Acredito que tão logo estejam todos vacinados e os shows voltem a ser permitidos, haverá forte procura pelo retorno das rodas de samba. Muitas pessoas têm relatado nas minhas redes sociais o quanto estão com saudades do Samba do Kilombo”, diz Rose Belo, respondendo sobre a expectativa sobre a volta dos eventos em seu espaço após a pandemia.

O dinheiro arrecadado com a venda do livro O Samba É Meu Kilombo: Tramas de Identidade, Solidariedade e Educação em Rodas de Samba de Salvador será revertido para as instituições que participaram da pesquisa de mestrado de Rose Belo.

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