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Estes também exigem a evocação

Quantos capítulos para Ben Jor e Toquinho? Quantos para Dorival Caymmi, Gismonti, a Tropicália, etc., etc., etc.?

Estes também exigem a evocação
Estes também exigem a evocação
Com Ben Jor um longo intervalo, com Toquinho conversas frequentes desde a noite em que juntos assistimos a luta Muhammad Ali vs. Foreman - Imagem: Marcos Hermes e André Fossati/Fundação Carlos Drummond de Andrade
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Deixa que o mar quebre na praia/ Mais doce ao meu lado passará a noite.

Os versos poderiam ser de autoria de Dorival Caymmi, no entanto são do poeta grego Teócrito, que tinha com o nosso cantor baiano grandes afinidades. Neste momento, o canal Film & Arts leva ao ar uma série dedicada à bossa nova, fenômeno muito importante e largamente merecedor da evocação. Espero que nos próximos episódios apareça o que faltou até agora, a referência a Stan

Getz, que foi determinante na construção da bossa nova: ele aproximou o jazz da música nativa, para estimular um casamento bem-sucedido.

À procura de pelo em ovo, permito-me objeções em relação a versos como os seguintes: Há menos peixinhos a nadar no mar/ Do que os beijinhos que eu darei na sua boca.

Estes jamais sairiam da imaginação de Dorival Caymmi ou de Teócrito. Citei Caymmi porque ele me fascina desde a infância. Meu pai havia adquirido o que então se chamava vitrola e com ela alguns discos, vinil, obviamente, escolhidos ao acaso. Entre eles abrigava-se ­Dora, rainha do frevo e do maracatu, e eu, menino, me percebi na calçada do bairro das fontes coloniais, no meio de um delírio popular a grassar nas calçadas.

Também curti a letra de Marina, a morena que se pintou para dissabor do seu cantor. Ele a via tão bonita com o que Deus lhe havia dado.

Quantos programas seria possível dedicar a Dorival Caymmi? E quantos à Tropicália, a marchar alegremente contra o vento, sem lenço e sem documento? E quantos a Egberto Gismonti, músico enciclopédico? Nada contra a bossa nova, muito pelo contrário. Mas como me agrada lembrar até Luiz Melodia, o poeta das lavadeiras…

Sempre recordo uma noite passada no Rio, no Beco das Garrafas, para ouvir um jovem cantor chamado Jorge Ben. Cantava um samba que era misto de maracatu, um samba digno de um preto velho. Faz pouco tempo, dois ou três anos atrás, encontrei Jorge em um restaurante, mudou o nome para Ben Jor, mas continua jovem. A nós se juntou Toquinho, frequentador do mesmo restaurante, em uma mesa redonda que nos oferecia copos e garrafas, em busca do justo ritmo. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1200 DE CARTACAPITAL, EM 23 DE MARÇO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Estes também exigem a evocação”

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