Esta noite se improvisa

O Brasil inteiro parava diante da TV quando o apresentador Blota Junior dizia “a palavra é

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Era toda quinta-feira, oito horas da noite. Eu não era nem maior de idade e me lembro bem. O Brasil era um país que ia pra frente da televisão assistir a um programa chamado Esta noite se improvisa. A gincana que ia ao ar pela TV Record virara uma febre, uma coqueluche como se dizia naquele 1967.

Era tudo muito simples. Alguns cantores convidados e o apresentador Blota Junior comandando o espetáculo. Os candidatos sentavam numa mesa e tinham que lembrar e cantar uma música com a palavra que Blota anunciasse. Era preciso ter boa memória e rapidez nas mãos porque havia um botão em cima da mesa e quem apertasse o botão primeiro é que ia lá na frente cantar a música.

Havia dois bambas, o jovem Caetano Veloso debaixo dos caracóis dos seus cabelos com uma memória de elefante e o comportado Chico Buarque de Hollanda, capaz de inventar uma canção na hora pra poder levar o prêmio máximo, um Renault Dauphine estalando de novo.

A ideia saiu da televisão ainda em preto e branco e ganhou as ruas. Virou uma mania nacional brincar de “a palavra é”. Até hoje, de tempos em tempos, aqui no meu escritório olho para essas quatro paredes forradas de CDs e na hora de escolher um para ouvir, penso na tal “a palavra é…” Hoje por exemplo, escolhi uma palavra bem simples: Eu. A palavra é… eu! Foi assim que me lembrei dessas canções para compor a crônica dessa semana.

Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior…

Eu sou da América do Sul
Eu sei, vocês não vão saber
Mas agora sou cowboy
Sou do ouro, eu sou vocês
Sou do mundo, sou Minas Gerais.


Eu sou uma fruta gogóia
Eu sou uma moça
Eu sou calunga de louça
Eu sou uma joia.

Eu sou a mosca
Que pousou em sua sopa
Eu sou a mosca
Que pintou pra lhe abusar…

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar.

Eu vou te dar a decisão
Botei na balança
E você não pesou
Botei na peneira
E você não passou.

Eu não posso mais ficar aqui
A esperar!
Que um dia de repente
Você volte para mim…

Eu só quero um amor
Que acabe o meu sofrer
Um xodó pra mim do meu jeito assim
Que alegre o meu viver.

Eu tenho tanto pra lhe falar
Mas com palavras não sei dizer
Como é grande o meu amor por você.

Eu vou
Por que não?
Por que não?
Por que não?

Eu não presto, mas eu te amo
Eu não presto, mas eu te amo.

Eu digo e ela não acredita, ela é bonita demais
Eu digo e ela não acredita, ela é bonita, bonita.


Eu acho, eu vou voltar pra Cantareira
Venho me apegando aos meus sonhos
E à minha velha motocicleta
Não gosto do pessoal da Nasa
Cadê meu disco voador?

Eu vou pra Maracangalha
Eu vou!
Eu vou de liforme branco
Eu vou!
Eu vou de chapéu de palha
Eu vou!
Eu vou convidar Anália
Eu vou!

Eu preciso te falar
Te encontrar
De qualquer jeito
Pra sentar e conversar
Depois andar
De encontro ao vento.

Eu não peço desculpa
E nem peço perdão
Não, não é minha culpa
Essa minha obsessão.

Eu tô te explicando
Pra te confundir
Eu tô te confundindo
Pra te esclarecer
Tô iluminado
Pra poder cegar
Tô ficando cego
Pra poder guiar.

Na ordem de entrada : Belchior, Milton Nascimento, Gal Costa. Raul Seixas, Tom Jobim, Monsueto, Erasmo Carlos, Dominguinhos, Roberto Carlos, Caetano Veloso, Demétrius, Geraldo Azevedo, Arnaldo Dias Baptista, Dorival Caymmi, Tim Maia, Jorge Mautner e Tom Zé.

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