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Eric Clapton, 80

A biografia do artista britânico inclui muitas polêmicas e crises, mas carrega uma marca inabalável: a de ser um dos maiores guitarristas de todos os tempos

Eric Clapton, 80
Eric Clapton, 80
Parcerias. Em 2023 e 2024, Clapton fez turnês pelo mundo. Ao longo da carreira, tocou com outros grandes, como B.B. King e Jimi Hendrix – Imagem: Redes Sociais Eric Clapton
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Já no início da carreira, nos anos 1960, Eric Clapton era reconhecido como um grande guitarrista. Sua habilidade em fazer solos nas bandas pelas quais passou – The Yardbirds e Cream, entre elas – impressionava pela leveza e controle das cordas. Essa foi uma época caracterizada, na Inglaterra, pelo surgimento de virtuosos no instrumento, como Jimmy Page, que em 1968 criaria o Led Zeppelin, e Jeff Back (1944–2023).

Mas era Jimi Hendrix quem inspirava aquele jovem músico nascido em Ripley, pequena cidade no entorno de Londres. Ambos construíram uma profunda amizade, e a morte prematura do guitarrista americano, aos 27 anos, em 1970, após overdose de barbitúricos, deixou ­Clapton aturdido. Poucas semanas depois, ele gravaria a clássica Little Wing, de Hendrix, no mesmo álbum em que registrou a sua música mais popular: Layla.

O disco Layla and Other Assorted Love Songs (1970) foi gravado pela Derik and the Dominos, banda liderada por Eric Clapton. A canção-título aborda a paixão desmedida de um homem por uma mulher e é o pano de fundo da primeira grande polêmica na qual o cantor se envolveu.

A mulher tematizada em versos era Pattie Boyd, então casada com um grande amigo de Clapton: o Beatle George Harrisson (1943–2001), também considerado um dos grandes guitarristas da história. Clapton e Pattie casaram em 1979. A regravação de I Shot the Sheriff, de Bob Marley, em 1974, foi outro estrondoso sucesso de Eric Clapton. Dois anos depois, ele entrou em outra grande polêmica.

Em um show em Birmingham, em 1976, o cantor e compositor protestou contra a imigração de negros na Inglaterra, exaltando um conhecido político anti-imigração da época, o conservador Enock Powell.

A fala de Clapton foi combustível para a criação do movimento Rock Against Racism, que tinha a lendária banda inglesa The Clash como uma das defensoras. Em 2017, durante o lançamento do documentário sobre sua vida, Eric Clapton: uma Vida em 12 Compassos, ele reconheceu ter sido racista.

Em 1977, veio outro hit: Cocaine, do álbum Slowhand, que retrata as consequências do vício em drogas. Na década seguinte, ele travaria uma batalha pessoal contra a dependência – também em álcool –, chegando a internar-se, por vontade própria, para tratar o problema. Anos depois, o artista fundou um centro de reabilitação, o Crossroads Centre, na Antígua, no Caribe.

No fim dos anos 1980, Clapton voltou a vida intensa de shows, e o álbum ­Journeyman (1989) representou o retorno à boa forma musical. Não demoraria, no entanto, para que outro drama recaísse sobre ele. Em março de 1991, seu filho Conor, de 4 anos, caiu da janela do 53º andar de um apartamento, em ­Nova York, enquanto visita do pai. A dor da perda foi expressada na canção Tears in Heaven, no álbum ­Unplugged (1992), um clássico da década de 1990.

Pouco antes da tragédia, Eric Clapton fizera 24 apresentações, ao longo de várias semanas, no Royal Albert Hall, a icônica casa de espetáculos em Londres. Alguns dos shows tiveram participação dos guitarristas Buddy Guy, Albert Collins (1932–1993) e Robert Cray, além do pianista ­Johnnie Johnson (1924–2005), lendas negras do blues.

Alguns de seus melhores discos são aqueles dedicados ao blues, gênero com o qual se identifica desde o início da carreira

O registro audiovisual desse histórico encontro foi lançado em 2023 no álbum The Definitive 24 Nights e reforça a figura de Clapton como um extraordinário bluesman, além de um adepto da música afro-americana.

Após as antológicas apresentações de 1991, Eric Clapton lançou uma série de discos de blues, como From the Cradle (1994), Blues (1999), Riding with de King (2000), com B.B. King, Me and Mr. Johnson (2004), sobre a obra do lendário Robert Johnson,e Play de Blues: Live from Jazz at Lincoln Center (2011), com Wynton Marsalis.

Eric Clapton sempre quis ser reconhecido como músico de blues, o gênero musical criado a partir da diáspora africana para os Estados Unidos. No início da carreira, foi um defensor do blues-rock nas bandas em que tocou, e isso chegou a gerar divergências entre ele e seus companheiros, como no grupo The Yardbirds.

Mas as controvérsias seriam, no fim, uma constante em seu percurso – e não apenas por motivos musicais e artísticos. Em 2020, ele teve uma postura negacionista e chegou a apresentar uma canção, em parceria com Van Morrison, Stand and Deliver, contra o isolamento.

Desde 2023, tem se posicionado a favor dos palestinos no conflito com ­Israel. Nas apresentações feitas no Brasil, no ano passado, ele tocou uma guitarra pintada com uma bandeira da Palestina.

Seu último álbum solo, Meanwhile (2024), foi lançado pouco depois da série de shows feitas no País.

Eric Clapton nasceu em 30 de março de 1945. Foi criado pelos avós e, quatro anos antes de adquirir seu primeiro violão, em 1958, descobriu que sua mãe tinha sido apresentada a ele como irmã. Ela havia engravidado dele após um breve caso com um canadense e tinha receio que a maternidade inesperada pudesse gerar problemas à sua vida na pequena cidade de Ripley.

O músico completa 80 anos na sexta-feira 30 com uma biografia que pode incluir muitas polêmicas e crises, mas que carrega uma marca que nada abala: a de ser um dos maiores guitarristas de todos os tempos. •

Publicado na edição n° 1355 de CartaCapital, em 02 de abril de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Eric Clapton, 80’

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