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Entre a festa e a violência

Uma exposição que percorre 30 anos da carreira de Rivane Neuenschwander mostra como a artista representou o Brasil

Entre a festa e a violência
Entre a festa e a violência
Telas. A retrospectiva inclui novas pinturas da série Notícias de Jornal – Imagem: Eduardo Ortega
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Uma década depois de sua primeira exposição panorâmica, Mal-Entendidos (2014), realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, Rivane Neuenschwander ganha uma retrospectiva que contribui, de forma significativa, para a compreensão de seu projeto artístico.

Brasil de Susto e Sonho: Um Panorama da Obra de Rivane Neuenschwander, em cartaz no Itaú Cultural, em São Paulo, até 2 de novembro, percorre 30 anos de carreira da artista mineira. A exposição apresenta uma diversidade de formatos e temas que, em conjunto, contam muito não só sobre ela, mas também sobre o Brasil.

Distribuída por três andares do prédio na Avenida Paulista, a mostra reúne obras icônicas como Atrás da Porta (2007), A Conversação (2010) e ­Bataille (2017), além de trabalhos inéditos.

Entre as obras recentes, destacam-se as séries As Insubmissas (2025) e Perversos, Marcianos, Canibais e Alienados (2025). Nelas, Rivane exibe figuras como O Comunista, O Antifascista, O Magnata da Fé e A Funcionária Fantasma, que são, a um só tempo, gente, bicho, bonecos populares e, por que não?, vudu.

O diálogo direto com o Brasil também se manifesta no vídeo Mestre Zenóbio e o Cordão da Bicharada, realizado com o cineasta Cao Guimarães. Nele, somos transportados para um cortejo carnavalesco no Rio Tocantins, onde os ribeirinhos se vestem com trajes de animais como araras, botos e ursos-polares. O bloco do Mestre Zenóbio foi criado no início dos anos 1970.

Não menos impactantes são as cinco pinturas inéditas adicionadas à série Notícias de Jornal. Nelas, o vermelho do sangue tinge ambientes simétricos e coloridos.

A curadora da exposição, Fabiana Moraes, explica que esse conjunto de trabalhos representa os “sustos que têm movido o Brasil no período pré e pós-pandemia”.

E o que é mágico na obra de Rivane é que, em meio a referências à violência – seja a política, na ditadura, seja a sexual – e aos “sustos”, o público entra em um universo colorido, onde a ideia de brincadeira se faz presente e as festas populares emergem.

Nascida em Belo Horizonte, em 1967, Rivane Neuenschwander já participou das Bienais de Veneza e de São Paulo e tem obras em coleções de museus como Tate Modern (Londres), Guggenheim (Nova York), MoMA (Nova York), TBA21 (Viena) e Inhotim (Brumadinho).

Composta de vídeos, esculturas, pinturas, instalações e desenhos, a exposição no Itaú Cultural deixa claro por que a artista alcançou a relevância que tem hoje. •

Publicado na edição n° 1376 de CartaCapital, em 27 de agosto de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Entre a festa e a violência’

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