Cultura

Emmy 2017 valoriza séries protagonizadas e produzidas por mulheres

Capitaneada pela aclamação de The Handmaid’s Tale, evento centra-se em histórias de viés político e premia diretoras e roteiristas

Elizabeth Moss em cena de The Handmaid's Tale: mais próxima da realidade do que gostaríamos, a série brilha ao mostrar o quão frágeis são os direitos femininos
Apoie Siga-nos no

A última edição do Emmy, que premia as melhores séries exibidas em 2017, focou em histórias de viés político, muitas protagonizadas ou escritas por mulheres. 

A distopia norte-americana Handmaid’s Tale, baseada no livro “O Conto da Aia”, escrito por Margaret Atwood na década de 1980, venceu na categoria Melhor Série Dramática e arrebatou os prêmios de Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Atriz Convidada para Elizabeth Moss, Alexis Bledel e Ann Dowd, respectivamente. Premiada pela direção do episódio de estreia, Reed Morano foi a primeira mulher a vencer a categoria em 22 anos. A série também levou o prêmio de melhor roteiro na categoria drama. 

Protagonizada por Moss, que interpretou recentemente a secretária (e depois publicitária) Peggy na série Mad Men, a série situa-se em um futuro próximo, no qual um grupo religioso ultraconservador instaura um estado totalitário que subjulga e estirpa as americanas de seus direitos mais básicos, transferindo as mulheres férteis para famílias abastadas com o objetivo de produzir herdeiros a partir de estupros disfarçados de cerimônias religiosas.

Leia também:
Gilmore Girls, uma série corajosamente feminista

Modern Family e a representatividade trans nas séries de TV

Moss é June, ou melhor, Offred, uma jovem aia a serviço do apagado comandante Fred Waterford (Joseph Fiennes) e de sua esposa, Serena Joy (Yvonne Strahovski), esta última uma ativista conservadora antifeminista que agora se vê obrigada a se ajustar ao estrito novo papel de esposa destinado a ela na sociedade de Gilead (novo nome dado aos EUA).

Outra conhecida do público, Alexis Bledel (a Rory da série Gilmore Girls) venceu na categoria de atriz convidada por sua participação na série como uma mulher lésbica. A veterana Ann Dowd também saiu vencedora  pela sua interpretação de Tia Lyia, a responsável por enquadrar um grupo de mulheres jovens em seus novos papeis sociais.

Produzida pela plataforma Hulu, concorrente da Netflix, e mais próxima da realidade do que gostaríamos, a série brilha ao mostrar o quão frágeis (e suscetíveis a golpes) são os direitos femininos e quão dolorosa (e rápida) pode ser a reação patriarcal a eles. No mundo real, a campanha misógina e a posterior eleição de Donald Trump ajudam a dar contornos de horror para a série.

De fato, talvez o mais assustador seja que a autora do livro no qual a série se baseia já declarou que não inseriu nenhum evento na ficção que já não tivesse sido colocado em prática contra as mulheres no mundo real. 

Já na categoria destinada à séries de menor duração, o domínio ficou por conta da dramática Big Little Lies. Produzida pela HBO e orbitada por um elenco estelar, oriundo principalmente da tela grande, Big Little Lies venceu o prêmio de Melhor Série Limitada, Melhor Atriz (Nicole Kidman), Melhor Atriz Coadjuvante (Laura Dern), Melhor Ator Coadjuvante (Alexander Skarsgard) e Melhor Direção.

Ambientada em mansões à beira-mar em Monterey, na Califórnia (EUA), a minissérie retrata o dia a dia de mulheres ricas e seus filhos pequenos que se veem imersas em uma trama de segredos e violência doméstica, mas que acabam descobrindo o poder da sororidade. 

Nos prêmios destinados às séries de comédia, a política Veep saiu vencedora pela terceira vez consecutiva, assim como Julia Louis-Dreyfus, que voltou para casa com o seu sexto prêmio pela interpretação da ex-senadora democrata Selina Meyers.

A atriz Lena Waithe fez história como a primeira mulher negra a receber um Emmy de roteiro em comédia pela série Master of None, produzida pela e para a Netflix.

Co-escrito com Aziz Ansari, o episódio vencedor (“Thanksgiving”) baseou-se na experiência da própria Waithe sobre os desafios interseccionais de ser uma mulher negra e lésbica assumida nos Estados Unidos.

Repleto de flashbacks, o episódio centra-se no Dia de Ação de Graças e na história da amizade do imigrante de primeira geração, o filho de indianos (Dev, interpretado por Ansari), com uma menina negra (Denise, interpretada por Waithe).

O episódio, de pouco mais de 20 minutos, foca-se especialmente na descoberta da sexualidade de Denise e sua posterior saída do armário na família. Em certo ponto da história, a mãe questiona a menina: “Você já é mulher negra, por que quer também ser lésbica?”, em uma alusão às dificuldades enfrentadas por essa população frente ao racismo e ao machismo no país. Embora se trate de um tema delicado, a série consegue mostrar, com humor, a reconstrução dos laços familiares entre pais e filhos de identidades diferentes. 

Ao Hollywood Reporter, Waithe descreveu “Thanksgiving” como um tributo à sua família, às mulheres negras e às matriarcas afro-americanas. “É uma ode maravilhosa à minha infância, meu crescimento e evolução como uma mulher confortável consigo mesma”, disse.

“Eu vejo cada um de vocês”, discursou Waithe ao receber o prêmio. “As coisas que nos fazem diferentes são os nossos superpoderes. Todos os dias você sai de casa e coloca sua capa imaginária para sair e conquistar o mundo, porque o mundo não seria tão belo quanto é se nós não estivéssemos aqui. E, para todo mundo que demonstrou amor pelo episódio, obrigada por aceitarem um pequeno menino indiano da Carolina do Sul e uma mulher negra queer da região sul de Chicago”.

Além de Whaite, Donald Glover também escreveu seu nome na história da premiação ao se tornar o primeiro negro a vencer na categoria Direção, pela série Atlanta. Outro pioneiro foi Riz Ahmed, primeiro ator de ascendência asiática (ele é filho de paquistaneses) a vencer a categoria de Melhor Ator em Série Limitada/Filme por sua atuação em The Night of. 

*Colaborou Debora Melo 

Confira os indicados e os vencedores da noite:

Melhor série dramática

“House of Cards”
“Better Call Saul”
“The Crown”
“The Handmaid’s Tale”
“This Is Us”
“Westworld”
“Stranger Things”

Melhor atriz em série dramática

Claire Foy (“The Crown”)
Elisabeth Moss (“The Handmaid’s Tale”)
Robin Wright (“House of Cards”)
Evan Rachel Wood (“Westworld”)
Viola Davis (“How to Get Away with Murder”)
Keri Russell (“The Americans”)

Melhor ator em série dramática

Sterling K. Brown (“This Is Us”)
Anthony Hopkins (“Westworld”)
Bob Odenkirk (“Better Call Saul”)
Matthew Rhys (“The Americans”)
Liev Schreiber (“Ray Donovan”)
Milo Ventimiglia (“This Is Us”)
Kevin Spacey (“House of Cards”)

Melhor série limitada

“Big Little Lies”
“Feud”
“The Night Of”
“Fargo”
“Genius”

Melhor filme para a TV

“The Wizard of Lies”
“The Immortal Life of Henrietta Lacks”
“The Lying Detective”
“Black Mirror: San Junipero”
“Dolly Parton’s Christmas of Many Colors: Circle of Love”

Melhor atriz em série limitada ou filme para a TV

Nicole Kidman (“Big Little Lies”)
Jessica Lange (“Feud”)
Susan Sarandon (“Feud”)
Reese Witherspoon (“Big Little Lies”)
Carrie Coon (“Fargo”)
Felicity Huffman (“American Crime”)

Melhor ator em série limitada ou filme para a TV

Riz Ahmed (“The Night Of”)
Benedict Cumberbatch (“Sherlock: The Lying Detective”)
Robert De Niro (“The Wizard of Lies”)
Ewan McGregor (“Fargo”)
Geoffrey Rush (“Genius”)
John Turturro (“The Night Of”)

Melhor série de comédia

“Veep”
“Atlanta”
“Black-ish”
“Master of None”
“Modern Family”
“Silicon Valley”
“Unbreakable Kimmy Schmidt”

Melhor ator em série de comédia

Anthony Anderson (“Black-ish”)
Aziz Ansari (“Master of None”)
Zach Galifianakis (“Baskets”)
Donald Glover (“Atlanta”)
William H. Macy (“Shameless”)
Jeffrey Tambor (“Transparent”)

Melhor atriz em série de comédia

Ellie Kemper (“Unbreakable Kimmy Schmidt”)
Allison Janney (“Mom”)
Julia Louis-Dreyfus (“Veep”)
Tracee Ellis Ross (“Black-ish”)
Lily Tomlin (“Grace and Frankie”)
Jane Fonda (“Grace and Frankie”)
Pamela Adlon (“Better Things”)

Melhor ator coadjuvante em série dramática

Jonathan Banks (“Better Call Saul”)
Ron Cephas Jones (“This Is Us”)
David Harbour (“Stranger Things”)
Michael Kelly (“House of Cards”)
John Lithgow (“The Crown”)
Mandy Patinkin (“Homeland”)
Jeffrey Wright (“Westworld”)

 

Melhor atriz coadjuvante em série de comédia

Vanessa Bayer (“Saturday Night Live”)
Anna Chlumsky (“Veep”)
Kathryn Hahn (“Transparent”)
Leslie Jones (“Saturday Night Live”)
Judith Light (“Transparent”)
Kate McKinnon (“Saturday Night Live”)

Melhor atriz coadjuvante em série limitada ou filme para a TV

Judy Davis (“Feud: Bette and Joan”)
Laura Dern (“Big Little Lies”)
Jackie Hoffman (“Feud: Bette and Joan”)
Regina King (“American Crime”)
Michelle Pfeiffer (“The Wizard of Lies”)
Shailene Woodley (“Big Little Lies”)

Melhor direção em série de comédia

Donald Glover (“Atlanta”)
Jamie Babbit (“Silicon Valley”)
Mike Judge (“Silicon Valley”)
Morgan Sackett (“Veep”)
David Mandel (“Veep”)
Dale Stern (“Veep”)

Melhor série de variedades em esquetes

“Billy On The Street” (truTV)
“Documentary Now!” (IFC)
“Drunk History” (Comedy Central)
“Portlandia” (IFC)
“Saturday Night Live” (NBC)
“Tracey Ullman’s Show” (HBO)

Melhor roteiro em série dramática

Joe Weisberg and Joel Fields (“The Americans”)
Gordon Smith (“Better Call Saul”)
Peter Morgan (“The Crown”)
Bruce Miller (“The Handmaid’s Tale”)
The Duffer Brothers (“Stranger Things”)
Lisa Joy and Jonathan Nolan (“Westworld”)

Melhor ator coadjuvante em série de comédia

Louie Anderson (“Baskets”)
Alec Baldwin (“Saturday Night Live”)
Tituss Burgess (“Unbreakable Kimmy Schmidt”)
Ty Burrell (“Modern Family”)
Tony Hale (“Veep”)
Matt Walsh (“Veep”)

Melhor direção em série limitada, filme ou especial de drama

Jean-Marc Vallee (“Big Little Lies”)
Noah Hawley (“Fargo”)
Ryan Murphy (“Feud: Bette & Joan”)
Ron Howard (“Genius”)
James Marsh (“The Night Of”)
Steve Zaillian (“The Night Of”)

Melhor ator coadjuvante em série limitada ou filme para a TV

Bill Camp (“The Night Of”)
Alfred Molina (“Feud: Bette and Joan”)
Alexander Skarsgard (“Big Little Lies”)
David Thewlis (“Fargo”)
Stanley Tucci (“Feud: Bette and Joan”)
Michael K. Williams (“The Night Of”)

Melhor roteiro de série de variedades

“Late Night With Seth Meyers”
“The Late Show With Stephen Colbert”
“Saturday Night Live”
“Last Week Tonight With John Oliver”
“Full Frontal With Samantha Bee”

Melhor atriz coadjuvante em série dramática

Uzo Aduba (“Orange Is the New Black”)
Millie Bobby Brown (“Stranger Things”)
Ann Dowd (“The Handmaid’s Tale”)
Chrissy Metz (“This Is Us”)
Thandie Newton (“Westworld”)
Samira Wiley (“The Handmaid’s Tale”)

Melhor roteiro de série de comédia

Donald Glover (“Atlanta”)
Stephen Glover (“Atlanta”)
Aziz Ansari and Lena Waithe (“Master of None”)
Alec Berg (“Silicon Valley”)
Billy Kimball (“Veep”)
David Mandel (“Veep”)

Melhor reality show de competição

“The Amazing Race” (CBS)
“American Ninja Warrior” (NBC)
“Project Runway” (Lifetime)
“RuPaul’s Drag Race” (vh1)
“Top Chef” (Bravo)
“The Voice” (NBC)

Melhor direção em série dramática

Vince Gilligan (“Better Call Saul”)
Stephen Daldry (“The Crown”)
Reed Morano (“The Handmaid’s Tale”)
Kate Dennis (“The Handmaid’s Tale”)
Lesli Linka Glatter (“Homeland”)
The Duffer Brothers (“Stranger Things”)
Jonathan Nolan (“Westworld”)

Melhor roteiro em série limitada, filme ou drama

David E. Kelley (“Big Little Lies”)
Charlie Brooker (“Black Mirror: San Junipero”)
Noah Hawley (“Fargo”)
Ryan Murphy (“Feud: Bette and Joan”)
Jaffe Cohen, Michael Zam and Ryan Murphy (“Feud: Bette and Joan”)
Richard Price and Steven Zaillian (“The Night Of”)

Melhor direção de série de variedades

Derek Waters & Jeremy Konner (“Drunk History”)
Andy Fisher (Jimmy Kimmel Live”)
Paul Pennolino (“Last Week Tonight with John Oliver”)
Jim Hoskinson (“The Late Show with Stephen Colbert”)
Don Roy King (“Saturday Night Live”)

Melhor programa de variedades

“Last Week Tonight” (HBO)
“Full Frontal with Samantha Bee” (TBS)
“Jimmy Kimmel Live!” (ABC)
“The Late Show with Stephen Colbert” (CBS)
“The Late Late Show with James Corden” (CBS)
“Real Time with Bill Maher” (HBO)

 *Colaborou Debora Melo 

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar