Cultura

Eles voltaram

Eu, que há anos faço campanha pró-malte, me regozijo com a reabilitação do uísque. Com ele, retorna à cena o ovo de amendoim

Não consigo imaginar Dean Martin, Sammy Davis Jr. e Frank Sinatra no bar em Vegas acompanhados por um merlot. Foto: Harry Langddon/ Getty Images
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Gostei de ouvir de quem entende, de quem comanda vários restaurantes, que o uísque está voltando a ser consumido. Eu, solitariamente, tenho feito campanha pró-malte há muitos anos. Adoro uísque. Considero-me muito mais um bebedor de uísque do que de vinho. Vinho, já disse várias vezes, é  coisa muito séria. Exige atenção, conhecimento. Não que o uísque entre na vala do “vale-tudo”. Longe disso.

Mas havemos de concordar que não dá, pelo menos dentro de meu medíocre conhecimento de tipos e marcas de uísque, para comparar a variedade do vinho versus a do uísque. Safra, por exemplo, não é coisa que exija reparo no malte e no vinho, segundo os que entendem, faz uma diferença danada. O que ambos têm em comum: se for ruim não dá pra tomar e se for muito mega-blaster-ultra ­especial, raros paladares serão capazes de apreciar.

Os detratores do uísque alegam que ele arruína o paladar por conta de seu alto teor alcoólico. E é verdade. Se a ideia é seguir com uma janta de primeira, não mais que uma dose. E eu digo que essa regra do pré também vale para o vinho. Os de hoje apresentam teor alcoólico alto, claro que ainda não se compara ao do uísque, mas vamos lembrar que por aqui tomamos o malte bem diluído. Excesso todos, em resumo, antes de comer, não funcionam.

Uísque sempre formou um par histórico, cinematográfico, musical com o cigarro. Destilados, eu diria. Não consigo imaginar o Rat Pack, Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., ­ no balcão de um bar em Vegas pedindo um merlot, um chardonnay e, na sequência, Dino girando e girando o copo e emitindo seus pareceres: “Ervas, madeiras, frutas secas”. Tal e qual, cada um deles fazendo o mesmo, daria para crer?

No tema, quem se lembra da abertura da canção Who’s Got the Action?, interpretada por Dean Martin? Um suposto mestre de cerimônia, após um rufo de bateria, diz: “E agora, senhoras e senhoras, a estrela de nosso show, direto do bar, Dean Martin!” E no momento seguinte a câmera faz um chicote, vai até o bar e encontra Dino. Bebendo o quê? Outros tempos, claro. Tempos nos quais a indústria do vinho não dava cartas.

Quando o assunto envolvia a harmonização com a fumaça, os destilados sempre tiveram minha preferência. Exceção ao vinho do Porto, que casava de maneira espetacular com um bom charuto. No mais das vezes, uísque com cigarro formavam um par mortal, em todos os sentidos, é fato.

No presente momento eu diria que o vinho tomou a dianteira. Em casas habitadas por pessoas de fino trato era bem comum encontrar uma linda coleção de garrafas de uísque, que foi substituída por uma adega climatizada. Eu ainda me fascino com uma coleção de garrafas. Quem não? Uma boa luz viajando pelos muitos formatos, refletindo dourados líquidos…

E o que você me diz sobre os gerentes de banco? Entraram bem, eu diria. Ninguém mais envia para eles uma garrafa de um honesto malte, tipo um Red Label. Hoje ele vai levar pra casa um argentinozinho ordinário e nem vai poder falar muito a respeito. Manda a norma da boa educação que ele agradeça e faça um comentário tipo: “Opa, da Argentina!”

Também outro alimento, ­ com o perdão de leitores(as) nutricionistas, voltou a circular e me deixou feliz: ovinhos de amendoim, que em outros tempos eram conhecidos como “novidade”. O que me agrada mais nessa volta: sinto que as pessoas estão ficando mais relaxadas no melhor sentido da palavra. Potinhos de variados salgadinhos podem ser um começo divertido para uma divertida noite. Se o uísque for bom, o vinho for bom e a música boa, só ficam faltando as boas pessoas, as boas conversas. E isso, admito, tem sido mais raro.

Gostei de ouvir de quem entende, de quem comanda vários restaurantes, que o uísque está voltando a ser consumido. Eu, solitariamente, tenho feito campanha pró-malte há muitos anos. Adoro uísque. Considero-me muito mais um bebedor de uísque do que de vinho. Vinho, já disse várias vezes, é  coisa muito séria. Exige atenção, conhecimento. Não que o uísque entre na vala do “vale-tudo”. Longe disso.

Mas havemos de concordar que não dá, pelo menos dentro de meu medíocre conhecimento de tipos e marcas de uísque, para comparar a variedade do vinho versus a do uísque. Safra, por exemplo, não é coisa que exija reparo no malte e no vinho, segundo os que entendem, faz uma diferença danada. O que ambos têm em comum: se for ruim não dá pra tomar e se for muito mega-blaster-ultra ­especial, raros paladares serão capazes de apreciar.

Os detratores do uísque alegam que ele arruína o paladar por conta de seu alto teor alcoólico. E é verdade. Se a ideia é seguir com uma janta de primeira, não mais que uma dose. E eu digo que essa regra do pré também vale para o vinho. Os de hoje apresentam teor alcoólico alto, claro que ainda não se compara ao do uísque, mas vamos lembrar que por aqui tomamos o malte bem diluído. Excesso todos, em resumo, antes de comer, não funcionam.

Uísque sempre formou um par histórico, cinematográfico, musical com o cigarro. Destilados, eu diria. Não consigo imaginar o Rat Pack, Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., ­ no balcão de um bar em Vegas pedindo um merlot, um chardonnay e, na sequência, Dino girando e girando o copo e emitindo seus pareceres: “Ervas, madeiras, frutas secas”. Tal e qual, cada um deles fazendo o mesmo, daria para crer?

No tema, quem se lembra da abertura da canção Who’s Got the Action?, interpretada por Dean Martin? Um suposto mestre de cerimônia, após um rufo de bateria, diz: “E agora, senhoras e senhoras, a estrela de nosso show, direto do bar, Dean Martin!” E no momento seguinte a câmera faz um chicote, vai até o bar e encontra Dino. Bebendo o quê? Outros tempos, claro. Tempos nos quais a indústria do vinho não dava cartas.

Quando o assunto envolvia a harmonização com a fumaça, os destilados sempre tiveram minha preferência. Exceção ao vinho do Porto, que casava de maneira espetacular com um bom charuto. No mais das vezes, uísque com cigarro formavam um par mortal, em todos os sentidos, é fato.

No presente momento eu diria que o vinho tomou a dianteira. Em casas habitadas por pessoas de fino trato era bem comum encontrar uma linda coleção de garrafas de uísque, que foi substituída por uma adega climatizada. Eu ainda me fascino com uma coleção de garrafas. Quem não? Uma boa luz viajando pelos muitos formatos, refletindo dourados líquidos…

E o que você me diz sobre os gerentes de banco? Entraram bem, eu diria. Ninguém mais envia para eles uma garrafa de um honesto malte, tipo um Red Label. Hoje ele vai levar pra casa um argentinozinho ordinário e nem vai poder falar muito a respeito. Manda a norma da boa educação que ele agradeça e faça um comentário tipo: “Opa, da Argentina!”

Também outro alimento, ­ com o perdão de leitores(as) nutricionistas, voltou a circular e me deixou feliz: ovinhos de amendoim, que em outros tempos eram conhecidos como “novidade”. O que me agrada mais nessa volta: sinto que as pessoas estão ficando mais relaxadas no melhor sentido da palavra. Potinhos de variados salgadinhos podem ser um começo divertido para uma divertida noite. Se o uísque for bom, o vinho for bom e a música boa, só ficam faltando as boas pessoas, as boas conversas. E isso, admito, tem sido mais raro.

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