Cultura

Documentário sobre Luiz Melodia coloca o artista no ‘Coração do Brasil’

Disponível no streaming, filme do cantor e compositor morto em 2017 aborda sua origem, convívio com racismo e sua arte suscitada do morro

Foto: Daryan Dornelles/Divulgação.
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Depois de uma biografia, Luiz Melodia tem agora um documentário sobre sua vida lançado. Tanto o livro como o filme surgem depois de sua morte, em 2017, e buscam colocá-lo em um lugar relevante (com toda razão) da música brasileira – algo que não existiu em vida.

Todas as Melodias (2020, 90 min.), de Marco Abujamra, disponível agora nos canais de streaming, tem muitas imagens – com e sem o artista – do Morro de São Carlos, no Estácio, no Rio de Janeiro, onde nasceu Luiz Melodia. A mostra desse cenário suscita dois aspectos centrados no documentário: o preconceito vivido e de onde se originava sua arte.

Luiz Melodia compunha versos aparentemente desconexos, que Waly Salomão (que junto com Hélio Oiticica e Torquato Neto o levou do morro para a Zona Sul) no filme, de forma poética, explica ter a ver com a busca por saídas dos becos e vielas de onde vivia, usando sentido figurado em suas letras.

Jards Macalé, amigo confidente, corrobora com Waly, definindo-lhe como uma metáfora. Luiz Melodia expunha o seu trabalho, seja em letra, melodia e estética, circulando entre o jogo de cintura do morro e a elegância do asfalto. O documentário retrata isso.

O filme tem um emocionante depoimento da cantora Céu definindo a arte de Melodia. Jane Reis, viúva do cantor, faz diversos relatos no filme. Ela lembra do racismo sofrido pelo músico e quando tinha que tomar à frente em várias atividades por conta disso. O preconceito de ser artista e negro ao mesmo tempo.

Foi de seu primeiro casamento, com Beatriz, que originou a música Juventude Transviada (“Lava roupa todo dia, que agonia…”). No documentário, Luiz Melodia conta que ela, burguesa, e ele, pobre, referenciou a criação.

Cita ainda ele de caso de preconceito com a Black Rio. A banda, como o soul music brasileiro dos anos 1970, é marcada pelo racismo. Aliás, Luiz Melodia é uma mistura de um pouco de soul com samba.

Como diz Arnaldo Antunes no filme, “o Brasil ainda precisa alcançar a grandeza de Melodia”. Um personagem inesperado, urbano e musical. Há várias outras participações no documentário, como Zezé Motta, Lineker, filhos e irmãs do cantor, dentre outros.

Encerrando o documentário, Magrelinha, de versos sem conexões e ao mesmo tempo resolvidos, é o refrão que endossa a sua personificação geográfica: “No coração do Brasil”. O filme é um importante marco sobre o artista depois de sua morte, que completa quatro anos no dia 4 de agosto.

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