Cultura
Dissidência de gênero
Na tradição dos filmes de zumbis, Juan dos Mortos ocupa uma posição peculiar. Além de ser uma sátira realizada com baixo orçamento, se passa em Cuba e reflete uma crítica política ao regime da ilha
Juan dos Mortos
Alejandro Brugués
Na tradição dos filmes de zumbis, Juan dos Mortos chega para ocupar uma posição no mínimo peculiar. Não pela razão de a comédia, em cartaz a partir de sexta 21, desenvolver-se numa assumida sátira e moldá-la com baixo orçamento, características mais do que comuns a esse cinema. Mas tudo isso se passar em Cuba, numa coprodução com a Espanha, e refletir uma crítica política ao regime da ilha torna o filme um acontecimento digno de análise. Ainda que o diretor cubano Alejandro Brugués não tenha requerido tal objetivo, como alegou no Cine Ceará ano passado, as referências são por demais explícitas para que não se enxergue algo além da mera afeição pelo gênero.
Há, antes de tudo, boa dose de diversão proporcionada por um realizador entusiasta. Havana está sob o domínio de uma infecção que transforma os moradores em mortos-vivos. Juan (Alexis Díaz de Villegas) e seu amigo Lazaro (Jorge Molina) decidem montar com um grupo uma empresa exterminadora desses seres, enquanto as autoridades insistem em propagar que se trata de invasores dissidentes enviados por forças imperialistas. Não faltam momentos evidentes do contexto de avaliação de um projeto político que se transformou nos últimos anos, mas que talvez não possa ainda absorver uma proposta tão debochada. A prova é que o instituto oficial do cinema de Cuba (Icaic) não está nos créditos, como é praxe na produção local.
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