Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Disco-tributo a João Nogueira revive o samba entre o morro e a zona sul

Com músicas inéditas do cantor e compositor, álbum exprime a obra primorosa do sambista que completaria 80 anos

Foto: Acervo TVE
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João Nogueira nasceu no Méier. Um bairro suburbano típico carioca. A sua obra expressa em letra e melodia o que não é exatamente a batucada do morro, mas também não chega a ser o samba Zona Sul que recebeu influências de outros gêneros.

O sambista, dentro dessa característica, montou uma obra única – e primorosa – dentro do samba urbano. O disco recém-lançado Nascidos no Subúrbio exprime exatamente isso.

O álbum foi produzido pelo violonista, cantor e compositor Jorge Simas, que já foi diretor e parceiro musical de João Nogueira, e do cantor e compositor Didu Nogueira, produtor dos shows do sambista e seu sobrinho. O trabalho homenageia os 80 anos de nascimento de João Nogueira, que faleceu em 2000 com apenas 58 anos.

No disco de 15 faixas, Didu (que tem timbre aveludado semelhante ao do João) e Simas dividem os vocais. A instrumentação do álbum segue o padrão de João Nogueira em gravações: violão sete cordas expressivo (bem conduzido por Simas), cavaco e percussões, com intromissões de piano e contrabaixo, além de algumas faixas com bateria e naipes de cordas e sopros.

Do Jeito que o Rei Mandou (João Nogueira e Zé Katimba) é o samba mais conhecido do álbum – a música tem uma centena de gravações. Cinco canções do disco são inéditas.

A música que abre o álbum, a inédita Violão sem Cordas, de João com Carlinhos Vergueiro, é talvez uma das maiores preciosidades lançadas nos últimos tempos provenientes do baú da música brasileira. A canção remete o que foi a ascensão do samba pós-1970.

Crônicas

O disco segue com músicas do sambista com Paulo César Pinheiro, seu parceiro mais importante, Claudio Jorge, Ivor Lancelotti, Paulo César Feital e Edil Pacheco.

Entre as 15 faixas, destaque para Ela, música nunca gravada de João Nogueira feita em parceria com Nelson Cavaquinho e também Paulo César Valdez. Já na inédita Bob Silva (parceria de João com Simas) uma homenagem ao percussionista Robertinho Silva, que morava perto do Clube do Samba, criado por João Nogueira.

Duas músicas de letra e melodia só do João chama a atenção: a bela Albatrozes e a crônica do morro Beto Navalha, gravada primeiro por Martinho da Vila.

Em Meu Canto sem Paz, parceria de João com a irmã, Giza Nogueira, que canta na gravação do álbum, Didu Nogueira lembra que a canção teve trecho censurado na ditadura e a letra original só foi gravada no CD póstumo de João Nogueira Através do Espelho (2001).

A faixa O Despertar do Mago, Simas, que é parceiro de João nessa ótima música-crônica, havia registrado em um trabalho solo. O violonista fez um acréscimo de letra no final da música regravada no álbum Nascidos no Subúrbio. Segundo ele, tratou-se de uma conclusão do que aconteceu com o casal protagonista da música.

O Rei da Felicidade (João Nogueira/Nonato Buzar), que fecha o disco, tem a participação do filho Diogo Nogueira.

Didu Nogueira criticou a mídia eletrônica pelo esquecimento da obra de João Nogueira e diz que o papel de Diogo é fundamental para manter vivo o trabalho do pai. Jorge Simas exalta o “legado ímpar” do sambista.

O disco-tributo foi feito de forma independente, com recursos arrecadados por meio de financiamento coletivo. O álbum físico pode ser adquirido pela página na rede social de Didu Nogueira aqui.

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