Diretores renomados criticam o predomínio dos filmes de super-heróis

Francis Ford Coppola: 'Martin Scorsese foi gracioso quando disse que não é cinema. Ele não disse que são desprezíveis, que é o que são'

Scorsese: o primeiro a expor sua visão

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Em meio ao lançamento de seu novo filme, O Irlandês, saga em parceria com a Netflix sobre o assassinato misterioso do líder sindical Jimmy Hoffa, o diretor Martin Scorsese tem encontrado tempo para liderar uma cruzada em defesa da tradição cinematográfica. Após abrir a sessão de críticas às produções da Marvel, Disney e DC Comics focadas em super-heróis, Scorsese tenta atrair o público para as salas de cinema – em contraposição aos interesses de seu parceiro, a Netflix, serviço de streaming normalmente acessado por tevê ou celular.

O Irlandês estreou mundialmente na Netflix na quinta-feira 28, três semanas depois de começar a ser exibido nos cinemas. Em entrevista à revista Rolling Stone o diretor implorou ao público que evite assistir às suas obras – e aquelas de outros diretores – no celular. “Eu sugiro, se vocês quiserem ver um dos meus filmes, ou a maioria dos filmes, não assistam pelo telefone, por favor. Um iPad, um iPad grande, talvez”, brincou.

As críticas de Scorsese à maneira com que o público tem assistido a filmes e à predominância das produções de super-heróis dividem opiniões em Hollywood e nas redes sociais. O Irlandês, estrelado por Robert De Niro, Al Pacino e Joe Pesci, tem três horas e meia e muitos assinantes da Netflix dão dicas de como assisti-lo como se fosse uma minissérie. Outros usuários postam fotos na rede social, nas quais se mostram orgulhosos por assistir ao filme em smartphones da Apple.

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Scorsese rejeita essas opções. Em entrevista à Entertainment Weekly, afirmou: “Jamais pensei nisso como apropriado para este filme. O objetivo deste filme é o acúmulo de detalhes. É um efeito de acumulação até o final, o que significa que você pode ver do começo ao fim de uma vez. Uma série é ótima. É maravilhosa. Você pode desenvolver personagens e tramas, e os mundos são recriados, mas isso não seria adequado para este filme”.

Segundo o diário britânico The Guardian, Scorsese, que fez um anúncio do iPhone 4s em 2012, tem recebido algumas das melhores críticas de sua carreira por O Irlandês. O filme recorre a uma tecnologia digital de ponta para contar uma história que se estende por muitas décadas, principalmente pela maneira inovadora do rejuvenescimento de De Niro, Al Pacino e Pesci, todos com mais de 70 anos. A película, prossegue o jornal, foi levemente criticada por causa do pouco tempo de aparição das suas estrelas femininas, em especial Anna Paquin, que interpreta a filha adulta de De Niro e fala sete palavras em seus dez minutos na tela. 


Em entrevista ao USA Today, De Niro defendeu a decisão do roteirista Steven Zaillian. Segundo o ator, esse silêncio era parte integrante da construção da personagem. “Ela era muito poderosa, o importante era isso”, analisou. “Talvez em outras cenas pudesse haver alguma interação entre Frank e ela, mas é assim que foi feito. Ela é fantástica, e isso repercute.”

Segundo Coppola, as películas da Marvel e cia. são desprezíveis

Outra reação negativa ao filme decorre principalmente de fãs de filmes de super-heróis, irritados com a rejeição de Scorsese ao gênero. Em entrevista em um festival de cinema na Estônia, Dante Spinotti, diretor de fotografia que trabalhou em Homem-Formiga e a Vespa, da Marvel, entre outros, reclamou: “Acho que Scorsese provavelmente não estava pensando corretamente quando disse o que disse. Divido a produção de filmes em duas grandes categorias: filmes bons e filmes ruins. Isso é tudo. Por que dizer o que é um filme e o que não é? Não entendo a tese”.

Scorsese não se abala. O diretor mantém firme a crítica à Marvel e companhia. “Eu não assisto”, declarou à revista Empire. “Eu tentei, sabe? Mas não é cinema. Honestamente, o mais perto disso, por mais benfeitos que sejam, com atores fazendo o melhor possível dadas as circunstâncias, são parques temáticos. Não é o cinema de seres humanos tentando passar experiências emocionais e psicológicas para outros seres humanos.”

Estimulado por Scorsese, um coro de realizadores premiados e reconhecidos expressou opiniões semelhantes. Francis Ford Coppola foi além: “Quando Martin Scorsese diz que os filmes da Marvel não são cinema, ele está certo, porque nós esperamos aprender algo com o cinema, esperamos ganhar algo, iluminação, conhecimento, inspiração. Não sei o que alguém pode aprender vendo o mesmo filme diversas vezes”. E prosseguiu: “Martin foi gracioso quando disse que não é cinema. Ele não disse que são desprezíveis, que é o que são”. 

Segundo Ken Loach, os filmes da Marvel se parecem com hambúrgueres. “É como fazer uma commodity que dará grande lucro para uma grande corporação. É um exercício cínico, um exercício de mercado, e não tem nada a ver com a arte do cinema.”

Neste ano, Vingadores: Ultimato, da Marvel, tornou-se a maior bilheteria da história do cinema. Em pouco mais de seis meses de exibição, a película sobre a equipe de super-heróis liderada pelo Homem de Ferro e pelo Capitão América faturou 2,79 bilhões de dólares ao redor do planeta. De 2012 em diante, a série Vingadores emplacou quatro obras entre os dez filmes de maior faturamento de todos os tempos.

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