Cultura
Diretor da Funarte ofende Fernanda Montenegro após atriz criticar Bolsonaro
A fala de Roberto Alvim foi classificada pela classe artística como um ataque à liberdade de expressão


O diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, o dramaturgo Roberto Alvim foi até suas redes sociais neste domingo 22 para se pronunciar sobre a atriz Fernanda Montenegro, que recentemente foi capa da revista literária “Quatro cinco um”. Na edição de outubro da publicação, Fernanda é retratada como uma bruxa prestes a ser queimada em uma fogueira com livros, fazendo uma referência aos recentes casos de censura feitas pelo governo.
“A foto da sórdida Fernanda Montenegro como bruxa sendo queimada em fogueira de livros, publicada hoje na capa de uma revista esquerdista, mostra muito bem a canalhice abissal destas pessoas, assim como demonstra a separação entre eles e o povo brasileiro”, diz Alvim,
O dramaturgo classifica as atitude de Fernanda Montenegro como mentirosas e diz que pessoas como ela estão deturpando os valores mais nobres de nossa civilização. “Nada pode ser mais infantil, mentiroso e canalha do que essa senhora diz na referida matéria. Fernanda Montenegro já assistiu várias peças minhas no passado, e já nutri alguma admiração por ela. Hoje, só o que sinto por essa mulher é o mais absoluto desprezo. Triste fim de carreira”, argumenta o diretor.
Após a repercussão de sua fala, o dramaturgo voltou na manhã deste segunda-feira 23 em suas redes para continuar o ataque contra Fernanda. Alvim diz que está sendo criticado por sua declaração e que nçao volta atrás do que disse. ” Então acuso Fernanda de mentirosa ,além de expor meu desprezo por ela, oriundo de sua deliberada distorção abjeta dos fatos”, afirmou.
“Amiguinhos esquerdistas: sua velha chantagem não funciona mais”, conclui Alvim.
A fala foi criticada pela classe artística. Em comunicado, a Associação dos Produtores de Teatro (APTR) repudiou as declarações de Alvim. “É absolutamente inadmissível que uma atriz com a sua trajetória seja atacada em seu livre exercício de expressão”, diz a nota.
“Como cidadão, o Sr. Roberto Alvim pode expressar opinião, independentemente do campo social, cultural e ideológico. Já como gestor público de relevância nacional – ou seja, representando o país como um todo – o mesmo deveria atentar-se à natureza do seu cargo, pautando-se pelo respeito à classe que representa e aos profissionais consagrados por sua atuação”, afirma a APTR.
Leia a nota na íntegra
A APTR repudia veementemente as declarações do diretor de Artes Cênicas da Funarte, Sr. Roberto Alvim, em suas redes sociais, onde classifica o não diálogo com a classe artística como uma “guerra irrevogável”.
Com a mesma intensidade, repudiamos a classificação da fala de dona Fernanda Montenegro como infantil, mentirosa e canalha. É absolutamente inadmissível que uma atriz com a sua trajetória seja atacada em seu livre exercício de expressão.
Desde que o mundo é mundo, as identidades de todos os povos são construídas através de símbolos, plenos de significados, originando histórias transmitidas de geração em geração. Por este motivo, quando o objetivo é destruir algo, o alvo é sempre o sagrado, o simbólico ou aquilo de maior valor afetivo.
Como cidadão, o Sr. Roberto Alvim pode expressar opinião, independentemente do campo social, cultural e ideológico. Já como gestor público de relevância nacional – ou seja, representando o país como um todo – o mesmo deveria atentar-se à natureza do seu cargo, pautando-se pelo respeito à classe que representa e aos profissionais consagrados por sua atuação.
Cuidar da cultura como um importante setor para a economia e a formação de um país trata-se de um exercício diário, ético e respeitoso. O mesmo se aplica ao cuidado que deveria ser adotado ao se referir a uma atriz como Fernanda Montenegro, um símbolo da identidade nacional, com reconhecimento em todo o mundo.
Persistiremos na busca pelo diálogo, pela liberdade de expressão, pelo afeto ao fazer artístico e cultural de nosso país. Tudo isso de forma civilizada e com total respeito à diversidade.
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