Comemorar os 201 anos de um senhor barbudo com palestras, aulas e até bolo poderia soar cômico se o aniversariante não fosse Karl Marx, responsável por redefinir os estudos de economia e luta de classes no mundo.
O chamado “Dia M”, evento realizado nesta sábado 4 para comemorar o nascimento do sociólogo, ressalta que estudá-lo ainda é necessário para a sociedade. “Passados mais de 100 anos de sua morte e do lançamento de ‘O Capital’, ele fez vários prognósticos em função da direção que o capitalismo assumiu”, analisa Jorge Grespan, que é doutor em Filosofia, professor de Teoria da História na Universidade de São Paulo (USP). Para ele, o nome de uma das mesas, chamada “Quem tem medo de Karl Marx?”, é bem apropriado.
Idealizado pela Editora Boitempo, pela Fundação Lauro Campos e Marielle Franco e pela Fundação Friedrich Ebert, o evento possui apoio da Tito Bear e promoção de CartaCapital. A programação conta com uma aula introdutória de “Quem foi Karl Marx?”, ministrada pelo professor Ricardo Antunes, professor da USP e estudioso da sociologia do trabalho no Brasil, além de debates com mais pesquisadores e influenciadores digitais.
“Marx chega para as pessoas como um satanista causador da morte de trilhões de pessoas. Chega assim por conta da internet, do debate raso na mídia, e por muita manipulação através de interpretações equivocadas da sua história e do seu trabalho que geram pânicos morais”, comenta a socióloga e youtuber Sabrina Fernandes, uma das convidadas aos debates.
Para Grespan, aspectos como a mercantilização do mundo e das relações sociais assustam as pessoas por serem espelhos das análises marxistas. As ideias também entram em disputa por serem propriedade dos donos dos meios de produção, segundo a perspectiva de Marx, e atuam a fim de favorecer os grupos dominantes. Nesse cenário, novos espaços de debate, como vídeos e podcasts, podem se configurar como um “caminho de libertação” pelo acesso gratuito e livre e pela linguagem feita para o entendimento.
Ivana Jinkings, diretora da Boitempo, acrescenta que o espaço de aprendizado é também importante pelo contato com outros leitores, editores e autores. “Temos que propagar a literatura além dos muros. Nesse evento, o debate é voltado para um público que quer começar a ler Marx, e que não necessariamente está dentro das universidades”, comenta.
Sabrina Fernandes endossa o papel de difundir diversas vozes em defesa da formação crítica, inclusive em espaços de acolhimento. “Essa parte de se divertir, de confraternizar, também é importante. Ajuda a criar e fortalecer vínculos. Não soltar a mão de ninguém também é isso: fomentar relações prazerosas entre as pessoas”, diz.
“A luta pela educação universal e de qualidade precisa continuar. E a organização das pessoas ao redor das demandas que alertamos no Youtube precisa ser feita do lado de fora. Não é um vídeo que vai salvar o Brasil do Bolsonaro, por exemplo”, complementa a socióloga.
O aniversário do “barbudo mais sem classe da história” será realizado na sede da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, na Alameda Barão de Limeira, 1400, tem início às 11h30 e possui entrada gratuita. Confira a programação completa abaixo e também no evento oficial do Facebook.
12h – 13h45: Quem foi Karl Marx?
Aula de Ricardo Antunes, mediação de Daniela Mussi
14h – 15h45: Quem tem medo de Karl Marx?
Debate com Jorge Grespan, Silvio Luiz de Almeida e Silvia Viana, mediação de Renata Souza
15h45 – 16h30: Sessão de autógrafos de Marx e a crítica da representação capitalista
16h30 – 18h: Como começar a ler Marx?
Debate com Sabrina Fernandes (Tese Onze), Larissa Coutinho (Revolushow), Jones Manoel (Revolushow) e Humberto Matos (Saia da Matrix), mediação Debora Baldin
18h30: Hora do bolo.
Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.
Já é assinante? Faça login