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De volta ao lar

As Neves do Kilimanjaro e o documentário Mr. Sganzerla – Os signos da luz, vencedor do Festival É Tudo Verdade, são as Sugestões Bravo! de Cinema

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Ética. O choque de dois mundos abala o clã do líder sindical Michel (Jean-Pierre Darrousin, à dir.) em As Neves do Kilimanjaro
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Por Orlando Margarido

 

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As Neves do Kilimanjaro


Robert Guédiguian

Pode-se visitar o Estaque e encontrar o clima amigável, de boa vizinhança entre operários, que quando não trabalham no porto se divertem em festas num verão ensolarado. Foi o que garantiu o diretor francês Robert Guédiguian em 2011 em entrevista a CartaCapital quando apresentou em Cannes As Neves do Kilimanjaro. No filme em cartaz a partir de sexta 6, ele retorna ao bairro portuário de Marselha, onde nasceu, cenário predileto de seu cinema até 2005.

“Há esse contexto um tanto idílico, solidário, mas também há um reduto transformado, que traz problemas e insegurança”, explica o cineasta. É no choque desses dois mundos, aquele solar e ingênuo representado pela canção popular que serve ao título, outro de condomínios altos e decadentes, que se desenrola a trama.

Representante digno do primeiro grupo, Michel (Jean-Pierre Darroussin) é o líder sindical que perde o emprego nas docas junto com outros colegas, entre eles Christophe (Grégoire Leprince-Ringuet). Este sustenta os irmãos mais novos e, sob pressão, rouba. O fato aproximará os clãs, inclusive Marie-Claire (Ariane Ascaride). Não será a noção policialesca, e sim moral, a comandar, então.

Guédiguian propõe-nos de que forma um experiente homem de esquerda, opositor das  instituições como sempre foi Michel, lidará com preocupações mais condizentes com as de um cidadão burguês.

 

É Tudo Verdade


Mr. Sganzerla – Os signos da Luz


Joel Pizzini


Estreia prevista para maio

De tão fascinado por Orson Welles, Rogério Sganzerla (1946-2004) chegou a apelar à umbanda para descobrir onde estavam os rolos do mítico It’s All True, o filme que o cineasta americano veio realizar no Brasil nos anos 1940.

“Na época diziam que as latas tinham sido jogadas no mar, exemplo do contexto traumático que o projeto adquiriu”, lembra o diretor Joel Pizzini. Como a crônica cinematográfica relata, o título encomendado em nome da política de boa vizinhança entre Estados Unidos e Brasil nunca foi finalizado.

O motivo imediato foi a morte trágica do protagonista, Manuel Olimpio Meira, o Jacaré, jangadeiro que desceu do Ceará ao Rio a bordo da pequena embarcação para cobrar atitudes trabalhistas de Getúlio Vargas. Welles pensava em filmar o Carnaval, a música, a festa brasileira, mas se encantou pela sina de Jacaré e pôs-se a dramatizá-la. “Ao fim, ele chegou a dizer que foi amaldiçoado, inclusive por um pai-de-santo que integrava o filme.”

De posse do troféu de melhor documentário nacional por seu Mr. Sganzerla – Os signos da luz, vencedor do festival É Tudo Verdade no último sábado e previsto para estrear em maio, Pizzini recolocou o assunto em debate com um apelo. “Vamos repatriar as latas desse filme tão importante para nossa memória”, pediu, mais diretamente ao presidente da Cinemateca Brasileira, Carlos Magalhães.

Em 1985, por esforços de estudiosos americanos como Catherine Benamou, as cerca de 300 latas foram encontradas no arquivo da Paramount, que veio a absorver nos anos 1990 a vizinha RKO, companhia em que Welles realizou seus clássicos como Cidadão Kane, e pela qual veio ao Brasil. A repatriação, claro, é simbólica. A proposta é copiar os negativos de uma aventura fílmica que, se não chegou a acender uma vez como um fósforo, no dizer de Sganzerla, tampouco está apagada da história do cinema.

 

Por Orlando Margarido

 

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As Neves do Kilimanjaro


Robert Guédiguian

Pode-se visitar o Estaque e encontrar o clima amigável, de boa vizinhança entre operários, que quando não trabalham no porto se divertem em festas num verão ensolarado. Foi o que garantiu o diretor francês Robert Guédiguian em 2011 em entrevista a CartaCapital quando apresentou em Cannes As Neves do Kilimanjaro. No filme em cartaz a partir de sexta 6, ele retorna ao bairro portuário de Marselha, onde nasceu, cenário predileto de seu cinema até 2005.

“Há esse contexto um tanto idílico, solidário, mas também há um reduto transformado, que traz problemas e insegurança”, explica o cineasta. É no choque desses dois mundos, aquele solar e ingênuo representado pela canção popular que serve ao título, outro de condomínios altos e decadentes, que se desenrola a trama.

Representante digno do primeiro grupo, Michel (Jean-Pierre Darroussin) é o líder sindical que perde o emprego nas docas junto com outros colegas, entre eles Christophe (Grégoire Leprince-Ringuet). Este sustenta os irmãos mais novos e, sob pressão, rouba. O fato aproximará os clãs, inclusive Marie-Claire (Ariane Ascaride). Não será a noção policialesca, e sim moral, a comandar, então.

Guédiguian propõe-nos de que forma um experiente homem de esquerda, opositor das  instituições como sempre foi Michel, lidará com preocupações mais condizentes com as de um cidadão burguês.

 

É Tudo Verdade


Mr. Sganzerla – Os signos da Luz


Joel Pizzini


Estreia prevista para maio

De tão fascinado por Orson Welles, Rogério Sganzerla (1946-2004) chegou a apelar à umbanda para descobrir onde estavam os rolos do mítico It’s All True, o filme que o cineasta americano veio realizar no Brasil nos anos 1940.

“Na época diziam que as latas tinham sido jogadas no mar, exemplo do contexto traumático que o projeto adquiriu”, lembra o diretor Joel Pizzini. Como a crônica cinematográfica relata, o título encomendado em nome da política de boa vizinhança entre Estados Unidos e Brasil nunca foi finalizado.

O motivo imediato foi a morte trágica do protagonista, Manuel Olimpio Meira, o Jacaré, jangadeiro que desceu do Ceará ao Rio a bordo da pequena embarcação para cobrar atitudes trabalhistas de Getúlio Vargas. Welles pensava em filmar o Carnaval, a música, a festa brasileira, mas se encantou pela sina de Jacaré e pôs-se a dramatizá-la. “Ao fim, ele chegou a dizer que foi amaldiçoado, inclusive por um pai-de-santo que integrava o filme.”

De posse do troféu de melhor documentário nacional por seu Mr. Sganzerla – Os signos da luz, vencedor do festival É Tudo Verdade no último sábado e previsto para estrear em maio, Pizzini recolocou o assunto em debate com um apelo. “Vamos repatriar as latas desse filme tão importante para nossa memória”, pediu, mais diretamente ao presidente da Cinemateca Brasileira, Carlos Magalhães.

Em 1985, por esforços de estudiosos americanos como Catherine Benamou, as cerca de 300 latas foram encontradas no arquivo da Paramount, que veio a absorver nos anos 1990 a vizinha RKO, companhia em que Welles realizou seus clássicos como Cidadão Kane, e pela qual veio ao Brasil. A repatriação, claro, é simbólica. A proposta é copiar os negativos de uma aventura fílmica que, se não chegou a acender uma vez como um fósforo, no dizer de Sganzerla, tampouco está apagada da história do cinema.

 

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