Esqueci que no Refô passado eu deveria ter comentado mais demoradamente sobre o filme Missão: Madrinha de Casamento. Disse que, a certa altura do filme, com a intenção de surpreender as amigas, uma das madrinhas eleitas sugere um restaurante brasileiro. Minto. Elas se aproximam de um restaurante mal localizado em um bairro nada nobre. Todas acham a parada “exótica” e a madrinha comenta que se trata de um restaurante brasileiro.
No interior do local, mexicanos vestidos de gaúchos as recebem informando que vão provar o verdadeiro churrasco brasileiro. E isso dito em bom espanhol. Espetos começam a circular. Horas depois, todas passam muito mal. As cenas, apesar de grotescas, chegam a ser divertidas.
Fico imaginando o que o nosso corpo diplomático diria para o diretor do filme, Paul Feig, considerando que chamaram de “vagabundo” um sujeito que nos sugeriu um singelo chute no traseiro. Deixando a diplomacia de lado, é bem divertido notar que, quase como diria Belchior, apesar de termos feito tudo que fizemos, são muitos os que apontam nossa capital em Buenos Aires.
Também vale notar a mudança, de feijoada para rodízio de carnes. Isto é um fato. São muitas as casas brasileiras que se instalaram no país do Norte. Considerando que a maioria dessas casas é bastante sofisticada, fico a imaginar o que teria acontecido na vida do diretor ou ainda na história das roteiristas para conceberem a cena e suas consequências.
Sobre o tema “o que teria passado na cabeça”, fui me lembrar de alguns choros. André de Sapato Novo foi um dos primeiros que me vieram à cabeça e comecei a pensar: de onde surgiu o nome? Descobri que o choro, composto por André Victor Correa, representa o que acontece quando um camarada veste um par de sapatos novos. A cada dúzia de passos, ele tem de dar uma parada e mexer os dedos para se livrar do aperto. Pois é justamente isso que faz o saxofone, dando pausas nos graves. E o Espinha de Bacalhau, do Severino Araújo? Também encontrei uma aceitável explicação: obra de difícil execução. O saxofonista mal consegue respirar, como se em sua garganta houvesse… uma espinha de bacalhau.
Daí derivou outro pensar: por que os chefs, a exemplo dos músicos e também de alguns pintores, não começam a batizar seus pratos em vez de simplesmente descrevê-los? Eu adoraria ver um cardápio com sugestões do tipo O Amanhecer no Campo, Irene, Solitude, Inveja de Maria, O Repasto de um Fauno, Quinteto de Sashimi Opus 2, Invenção para 3 Vozes, uma Língua e Dois Palatos.
E não é que fui me lembrar de um Refô bem antigo, no qual reproduzi os sabores do cardápio de uma pizzaria? Havia Picasso, Van Gogh, Da Vinci. E a relação entre eles e os ingredientes era algo espetacular. Não me lembro com precisão, mas a Picasso tinha mussarela, rúcula e atum. Não era isso, mas era isso, se consigo fazer me entender.
Bem bacanas também são os nomes descritivos/criativos como o “cascata de camarão”. Quem já chegou a ficar frente a frente com o cascata? É coisa linda de se ver. Coisa de cinema, para que o assunto inicial não seja abandonado. E é uma amiga que me leva a mudar de assunto ao me cobrar: por que você não fala sobre os -chefs que colocam seus nomes em produtos industrializados? Talvez porque não tenha muito a comentar: eles o fazem por grana.