Cultura

Criadora do Encontro de Mulheres no Samba, Dorina reforça papel da luta

Cantora vê momento com ‘coração apertado’, mas crê no fortalecimento

Criadora do Encontro de Mulheres no Samba, Dorina reforça papel da luta
Criadora do Encontro de Mulheres no Samba, Dorina reforça papel da luta
A sambista Dorina (Foto: Marluce Martins/Divulgação)
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Dorina canta desde criança. Viu nascer algumas rodas e blocos no subúrbio do Rio de Janeiro. Em Irajá, onde se criou, mesmo com as dificuldades, ela diz que o samba nunca parava. Isso a fez transformar o gênero como sua melhor arma de sobrevivência e luta.

A cantora é idealizadora do Encontro Nacional de Mulheres na Roda de Samba, que realiza esse ano sua segunda edição em 9 de novembro, homenageando Leci Brandão (em 2018 foi Beth Carvalho).

Trata-se de um evento que acontece simultaneamente em várias cidades brasileiras – duas dezenas delas devem integrar o programa 2019 – e até na Argentina.

O encontro tem a proposta de ressaltar o papel da mulher no samba além do que às vezes é identificado, como pastora, fazendo coro às músicas, ou mesmo preparando a comida nas rodas.

Por isso, para lá de uma centena de cantoras, compositoras e instrumentistas do gênero participam do encontro em todo país.

O evento em cada localidade tem muito samba (daqui a algumas semanas sai a programação das rodas em cada cidade), mas também chama a atenção para as políticas destinadas às mulheres.

“O objetivo do evento é aglutinar, agregar, pensar juntos modos de melhorar as condições de vida, de crescermos em nossas atividades, de desenvolver o entorno. Foi o que aprendi em Irajá”, diz Dorina.

O momento mais emocionante do encontro, lembra ela, é quando todos os locais juntos tocam a mesma música, no mesmo tom.

A força das sambistas

A cantora conta que o momento tem sido “conseguir sobreviver a isto tudo que anda acontecendo, que está apertando nosso coração, nos deixando sufocados, e nos fortalecermos”.

E cita uma nova geração de mulheres do samba como inspiração e fé para o engrandecimento: Marcelle Motta, Marina Íris, Nina Rosa, Renata Jambeiro, Roberta Nistra, Bia Flor (sua filha), Samara Líbano, Yasmin Alves, Karynna Spinelli, Valéria Oliveira, Flávia Saoli, Andreia Caffé e os grupos Moça Prosa e Samba que Elas Querem.

“E as companheiras que acreditam e estão aí na luta há algum tempo: Ana Costa, Nilze Carvalho, Luiza Dionizio, Tania Machado, Dayse do Banjo, Elaine Machado… é muita gente boa querendo construir um mundo melhor. E Teresa Cristina, que amou o projeto (Encontro de Mulheres no Samba)”.

Desafio ao cantar Socorro Lira

Dorina lançou este ano seu nono álbum. Trata-se de Na Lira da Canção, com as cantoras Ana Costa e Lu Oliveira, sobre composições da paraibana Socorro Lira – disco recomendadíssimo, a propósito, bem cantado e bons arranjos.

Um trabalho diferente dos anteriores da intérprete centrados no samba tradicional. “Foi um desafio cantar essa poeta”, resume.

O samba na atualidade ela diz estar indo bem, mas “é preciso essa troca entre o público e os artistas”.

Ela cita que o samba tem vivido esses últimos tempos com dificuldade de remuneração do músico: “Vamos para rua, fazemos de graça e o povo paga a cerveja, mas não paga o ingresso de 10 reais”.

E emenda: “Lutamos muito pela nossa cultura, e é chegada a hora de fazermos a conquista do espaço público, mas com estrutura para o samba, com segurança, pagando os músicos, os artistas, incentivando as feiras no entorno de base afro-brasileira (uma tradição nas rodas)”.

É a luta que segue.

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