Contra os clichês do mundo pop

Em seu disco, John Cale persiste em seu ideário vanguardista e trabalha cada faixa em vários níveis. Por Tárik de Souza

Shifty Adventures In Nookie Wood - John Cale - Deck

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por Tárik de Souza

Inglês de Garnant, ainda no Goldsmiths College, John Cale interessou-se por música eletrônica e vanguarda. Com uma bolsa de estudos da Orquestra Tanglewood, da Universidade de Boston, mudou-se para Nova York, onde conheceu Lou Reed, em 1964. Nascia o projeto Velvet Underground com o multiartista Andy Warhol, a cantora Nico e mais Sterling Morrison (guitarra) e Moe Tucker (bateria), numa clave sombria, na contramão dos raios de paz e amor do pop/rock da época.

Um choque de egos com Reed tirou Cale do VU. Desde 1968, ele segue carreira-solo, em eventuais colaborações com ex- -colegas, como Nico (mais Brian Eno, do Roxy Music e Kevin Ayers, do Soft Machine) em June, 1, 1974, o próprio Lou Reed, em Songs for Drell (1990), além da elegia Eat/Kiss (1997), com a música dos filmes de Andy Warhol. Aos 70 anos, Cale lança o 15º álbum, após um hiato de sete anos. Quase todo produzido no estúdio do solista, em Los Angeles, Shifty Adventures in Nookie Wood traz apenas uma parceria autoral, I Wanna Talk 2 U, com Danger Mouse, produtor e DJ responsável por uma nova formatação do hip-hop, e estrondos nas paradas como o duo Gnarls Barkley (com Cee Lo Green) e Demon Days, do Gorilazz.

No disco, Cale persiste em seu ideário vanguardista e trabalha cada faixa em vários níveis. Das letras agudas, como a diatribe contra desvios policiais na marcial Scotland Yard e a invasão da privacidade via internet (December Rains), mais a orgia imagética de Hemingway, às metamorfoses vocais (algumas alteradas com utilização do programa autotune) e a ambientação sonora, sempre semovente, como nas emissões lúgrubes de Vampire Cafe. Com instrumentação eletrônica combinada à acústica, JC gera estranhamentos em série, capazes de subverter a habitual clicheria pop.

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