Cultura

Consagrada canção-protesto de Marvin Gaye volta à evidência nas ruas

Música What’s Going On vira símbolo das manifestações nos EUA, tem clipe premonitório e é trilha de novo filme de Spike Lee

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Um clipe lançado há quase um ano e com ares premonitórios, rememorava a música What’s Going on, gravada por Marvin Gaye e presença frequente na lista das grandes canções do século passado.

O vídeo dirigido por Savanah Leaf, uma ex-jogadora de vôlei que disputou a Olimpíada de Londres pela Grã-Bretanha, remete à canção a duas cidades americanas com alta percentagem de população negra. Ambas ficam próximas, no estado de Michigan, e vivem percalços sociais pouco revelados dos Estados Unidos.

A primeira chama-se Flint, atormentada desde 2014 por uma crise no abastecimento, ainda não totalmente resolvida, que fez sair das torneiras das residências água com alto teor de chumbo e coloração de dar inveja a Cedae, após uma troca desastrosa de local de captação.

O clipe apresenta ativistas essenciais na luta por água potável nas ruas como personagens ao invés de atores.

Entremeado aos problemas de Flint surge as questões também cruéis de Detroit, a segunda cidade abordada nesse vídeo.

Sede da histórica Motown, entra em cena um cego, na fila de atendimento do questionado sistema de saúde americano (não há dúvidas que o modelo impulsionou o número elevado de casos de covid-19 no país), que trabalhou na gravadora na época em que What’s Going On foi registrada por Marvin Gaye. Cita-se que a Motown relutou em gravar a música pelo seu cunho político.

What’s Going On, de autoria de Marvin Gaye, Renaldo Benson e Al Cleveland, além de melodia de exuberância emotiva e dramática, tem letra para lá de impactante, embora longe de rebuscamento (e talvez por isso tenha caído no gosto de milhões e milhões de pessoas).

Trata-se de uma música inspirada por Gaye nos violentos protestos em um distrito de Los Angeles, em 1965 (estopim foi no dia 11 de agosto), iniciado quando um negro foi agredido por policiais após o veículo que dirigia ser parado para averiguação – o videoclipe também faz referência ao incidente.

Pergunta sem resposta

Nos trechos da música, a revelação do racismo: Mãe, mãe, todos pensam que nós estamos errados / Oh, mas quem são eles para nos julgar / Simplesmente porque temos cabelo comprido / Oh, você sabe que nós precisamos encontrar um meio / Para trazer um pouco de entendimento aqui, hoje / Piquetes e cartazes / Não me puna com brutalidade / Fale comigo / Então você poderá ver / O que está acontecendo.

A pergunta segue sem resposta. Não por isso passou a ser um dos hinos dos protestos atuais no Estados Unidos contra o racismo e a violência policial. Grupos passaram a cantá-la nos diversos encontros públicos para criticar a política local contra os negros.

What’s Going On foi gravada há exatos 50 anos e também virou tema recorrente de sua relevância na mídia americana.

Spike Lee, no seu último filme recém-lançado, Destacamento Blood, sobre militares negros na Guerra do Vietnã, usou seis músicas do álbum clássico What’s Going On, de Marvin Gaye. Claro, a faixa-título entrou.

O novo trabalha do diretor foi rodado ano passado. Portanto, antes das manifestações em seu país, assim como o videoclipe de Savanah Leaf.

Num mundo de permanentes problemas, a maioria os mesmos, a canção-protesto de Gaye será sempre atualíssima, ainda mais pela sua enorme força melódica e uma letra de mensagem direta e clara.

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