“Os brancos da cidade vinham passear / Às vezes inventava tomar banho de mar / Se com roupa de banho não estava, não / Mucuim alugava maiô e calção”.
Este é um trecho de um samba de Seu Regi, que conta uma antiga história que ocorria quando as pessoas vinham do centro de Salvador para a praia de Itapuã. Despreparados, “os brancos da cidade”, para ir ao mar, alugavam roupas apropriadas no estabelecimento de Mucuim.
A música compõe o primeiro disco gravado por Regi de Itapuã, aos 78 anos, chamado Minha Caminhada. Com 13 faixas, além de samba, o álbum tem baião, ciranda, bolero, ijexá e maxixe. As composições do trabalho são crônicas do dia a dia.
Reginaldo Souza nasceu no São Caetano, região mais central na capital baiana. Mas mudou-se para Itapuã para morar perto do trabalho. E assim está lá há 48 anos. No bairro famoso, fez mais de 50 músicas envolvendo o local e pessoas de Itapuã. “Aqui é uma fonte enorme de inspiração. São histórias verdadeiras”, diz.
O fato de se identificar tanto com Itapuã o fez agregar ao seu nome o local. Nesse seu primeiro disco, existem algumas canções envolvendo o belo recanto. “No passado, achavam que Itapuã não pertenciam a Salvador”.
Na composição Festa de Itapuã (em parceria com Pedrão Abib), os acontecimentos típicos locais: “Ouvi o som do atabaque / E muita gente a cantar / Em um saveiro encostando / Para os presentes levar/ Tinha canoa e jangada / Também para acompanhar / Esse cortejo tão lindo à Iemanjá”.
Regi não tinha vontade de gravar suas músicas. Queria ser apenar um compositor. “Agora estou vendo a importância disso. É uma relíquia que vou deixar para o povo de Itapuã. Não estava enxergando isso”.
O baiano já teve músicas registradas na voz de Margareth Menezes, Juliana Ribeiro, Zé da Guiomar, Adriana Moreira, entre outros. Ele trabalha mais compondo sozinho, fazendo letra e melodia. Mas nesse seu álbum colocou cinco músicas com parceiros.
Digno representante da cultura local, Regi tem três músicas gravadas pelas Ganhadeiras de Itapuã. O grupo musical é referência cultural de Salvador pelos sambas de roda e resgate da memória das mulheres de Itapuã que vendiam comida pela cidade em balaios, há mais de um século.
O álbum Minha Caminhada de Regi de Itapuã foi viabilizado pela Lei Aldir Blanc. A direção musical e artística é de Amadeu Alves e Pedrão Abib e a produção executiva de André Carvalho.
Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.
Já é assinante? Faça login