Cultura

Claudio Nucci traz canção inédita com Aldir Blanc sobre a aflitiva realidade

Músico comemora 40 anos de carreira e lança composição de 1988, mas que parece atual, com o inesquecível letrista morto vítima da Covid

Foto: Rafael Lorga/Divulgação
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Claudio Nucci teve a oportunidade de apresentar em 1988 duas melodias para Aldir Blanc. Feito o trabalho, as composições permaneceram inéditas ao grande público até uma delas ser lançada recentemente.

“Participava de um grupo chamado Banda Zil. A gente estava ensaiando para fazer o primeiro disco [e único] da banda. Paulinho Albuquerque [falecido em 2006], que dirigia, sugeriu que se a alguém tivesse alguma melodia legal, que ele poderia levar para o Aldir letrar”, lembra Claudio Nucci.

O músico se empolgou, foi para casa, e fez logo duas, que foram devidamente encaminhadas ao Aldir. Uma semana depois, recebeu um telefonema do nobre compositor.

“E aí ele me convidou pra ir a casa dele, para eu tomar contato com a letra. Passei uma tarde maravilhosa”.

Uma composição é uma reminiscência de infância do Aldir Blanc, chamada Meu Quintal, que Nucci analisa de lança-la no aniversário do grande letrista, em 2 de setembro, quando faria 75 anos, se não fosse vitimado pela Covid-19 em maio do ano passado.

A outra composição, intitulada Caçada Humana, Nucci conta que quando Aldir a apresentou passava um retrato em sua cabeça do que estava acontecendo naquele momento. Aliás, nada muito diferente do que ocorre hoje: “A letra continua tendo sentido”. De fato, a composição segue atual e representa a dolorosa realidade:

A pedra quem jogou
a quebra da vidraça o leva e traz da onda multidão
o saque quem sacou primeiro
minha fome ou sacanagem no revólver da remarcação
caçada humana e eu sou o bicho, o índio, a presa-troféu
cabeça a prêmio por querer sonhar e ter o que comer

a blitz me para
e é tapa na cara
de um homem trabalhador
meu sangue e desespero
são o vinho e o cordeiro
na páscoa do doutor

A pedra quem jogou
a quebra da vidraça o leva e traz da onda multidão
o saque quem sacou primeiro
colarinho branco contra o povão
o rodamoinho, as ondas do mar, saquei
saque pra revidar

Novo álbum

A composição Caçada Humana, em ritmo de samba, já foi lançada nas plataformas digitais, e tem Claudio Nucci na voz e violões, e ainda Marcio Resende (sopros), Eduardo Taufic (piano elétrico), Bernardo Aguiar (percussão), Rômulo Gomes (baixo) e Vittória Braun e Rafael Lorga (coro).

A música Caçada Humana integra também o álbum Claudio Nucci Direto no Coração – 40 Anos de Acontecências, produzido por Rafael Lorga, cujo lançamento está programado para o dia 26 de março, depois do projeto ser selecionado a partir do edital Retomada Cultural RJ, por meio da Lei Aldir Blanc.

O novo álbum tem as participações de Chico Chico (Eller), Moska, Pedro Luís, Renato Braz, Jaques Morelenbaum, Carlos Malta, entre outros músicos.

O trabalho conta com 13 faixas, sendo três inéditas (uma delas a com Aldir Blanc) e o restante com regravações com “novos arranjos e tons”, inclusive composições de sucesso do músico, como Sapato Velho (Claudio Nucci, Mú Carvalho, Paulinho Tapajós) e Toada (Zé Renato, Claudio Nucci, Juca Filho).

Nucci é da formação original do grupo Boca Livre, que lançou em 1979 seu primeiro álbum e um dos mais emblemáticos da MPB. As duas músicas que impulsionaram o trabalho são de Claudio Nucci: Toada, já citada, e Quem Tem a Viola (dele com Zé Renato, Juca Filho e Xico Chaves).

“Foi uma grande experiência de dois anos (de 1978 a 1980)”, resume Nucci. Em 1981, ele lançou seu primeiro álbum solo, ano que iniciou a contagem de seus 40 anos de carreira.

Sobre a saída no início deste ano do Boca Livre, por divergências políticas, de Zé Renato e Lourenço Baeta e, dias depois, de David Tygel, permanecendo apenas Maurício Maestro, que é detentor da marca, Claudio Nucci diz ter acompanhado de longe a separação. Nucci integrou duas vezes o Boca Livre, sendo a segunda entre 2000 e 2003.

“Tenho orgulho de ter feito parte desse grupo, com uma estética musical muito bem feita, bem arranjado, de bom gosto. Não tenho nada a dizer sobre o trabalho musical do Boca Livre. Sempre fui fã”, disse. “Fico triste pelo final do grupo, mas acho que como toda banda, tem que acabar. É um ciclo”.

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