Elefante Branco
Pablo Trapero
Pablo Trapero refuta de pronto que Elefante Branco, em cartaz a partir de sexta 2, tenha vínculos com as produções brasileiras encenadas nas favelas. Não aceita, por exemplo, compará-lo com Cidade de Deus. “É outro contexto. Nossas villas nascem por outras circunstâncias e talvez problemas pontuais possam ser associados”, diz em entrevista no Festival de Cannes. O diretor argentino está mais interessado em discutir paradoxos que motivaram seu interesse pelo drama social. O primeiro surge no título. Diz respeito a um hospital sonhado por um socialista em Buenos Aires para ser o maior da América do Sul. Permanece um esqueleto, em torno do qual cresceu uma villa.
O mais importante, no entanto, refere-se à única figura real presente no drama. O padre Carlos Mugica vinculou-se, a partir dos anos 1960, nas lutas populares e realizava trabalho comunitário na Villa de Retiro quando foi assassinado em 1974. “Isso quando ainda não havia ditadura e supostamente ele foi morto por um grupo de extrema-direita”, lembra Trapero. A trajetória de Mugica reflete-se na do sacerdote interpretado por Ricardo Darín. Como Julían, ele atua em um desses núcleos miseráveis como mantenedor da ordem possível à custa de negociações constantes com traficantes, por exemplo. Ao caos coletivo se somarão suas dúvidas e também as de um colega mais jovem (Jérémie Renier), inclusive de vocação, em recurso de contraste pessoal que tira um tanto da força do filme.