Está em cartaz em São Paulo (depois de temporada no Rio) um espetáculo capaz de arrebatar – em emoção e em prazer – o mais insensível dos cricríticos: Chacrinha, o Musical.
A direção de Andrucha Waddington aproveita-se das qualidades do argumento e do desempenho dos protagonistas para recriar o ambiente de um auditório real, de forma a que a audiência do musical, ao grito clássico do Tereziiiiinha, assuma o imediato papel de plateia da tevê, transportando-se como que numa bolha mágica de nostalgia para aquele espaço de loucura, breguice, improviso, deboche, afeto e crueldade tão semelhante, aliás, a essa mixórdia chamada Brasil.
Não é só saudade do Velho Guerreiro, ao mesmo tempo anárquico e careta, que o musical traz. Fica também um travo amargo na comparação com certos auditórios que tentam emular aquilo em que o Chacrinha era especialista: os concursos de calouros.
Apesar da pose high tech, programas como The Voice Brasil são de uma chatice monumental, para o que contribui entusiasticamente o exibicionismo de seus jurados. Naturalmente, a mediocridade tende a fazer escola, inspirando subprodutos como essa novidade de nome espírita do Domingão do Faustão: Iluminados. Foram cinco rodadas obedientes à fórmula caça-níqueis de uma interatividade que, no júri do Faustão, é um vão esforço. Mais do que interativo, o Chacrinha era hiperativo. Sobretudo quando dava livre curso, diante de um calouro, a seu alegre sadismo.