Cultura

Caso vá às ruas, Amado Batista se tornará artista-mor do bolsonarismo

Em vídeo divulgado dias atrás, convocando a população para os atos do dia 7, ele disse que ‘estaria junto a favor do Brasil’

Crédito: Reprodução
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Pouco tempo depois de Sérgio Reis convocar a população para manifestações antidemocráticas e em defesa do presidente Jair Bolsonaro para o Dia da Independência, Amado Batista fez o mesmo.

“Olá, Brasil, acorda! Estaremos juntos nas ruas em favor do Brasil, em favor da liberdade, em favor do nosso capitão presidente. Aliás, nós o elegemos para isso. Para que ele pudesse dar um rumo novo neste País, que virasse primeiro mundo, que é o que todos nós sonhamos. Mas infelizmente tem vários corruptos travando a vida do nosso presidente. Nós precisamos estar nas ruas a favor dele, a favor do País. Espero contar com a presença de todos vocês, lá. Eu estarei com vocês. Até lá.”

No dia seguinte à declaração do cantor brega, o sertanejo acabou sendo alvo da Polícia Federal. Sérgio Reis se recolheu. Amado Batista parece ter assumido o berrante.

Em encontro com lideranças em Goiás no último dia 28, o presidente ganhou de presente um violão autografado pelos cantores Gusttavo Lima, Leonardo e Amado Batista. A imagem que ficou na lembrança foi Bolsonaro usando o instrumento musical como se estivesse segurando um fuzil.

Amado Batista trabalhava em 1972 numa livraria em Goiânia (ele nasceu em Catalão, interior de Goiás), quando foi preso na Ditadura Militar. Segundo conta em sua autobiografia, o fato do lugar ser encontro de “comunistas” fez com que pegasse uma procuração de um deles (que era professor e estaria envolvido em atos subversivos) para receber seu salário e depois repassá-lo.

Por isso, acabou sendo preso “por engano”. Passou dois meses recolhido. Sofreu tortura física e psicológica, foi encapuzado e tomou choque, de acordo com o livro sobre sua vida publicado em 2010. Inconformado, depois de solto, chegou a pensar em suicídio.

De família pobre e numerosa, o cantor foi lavrador quando criança. Foi para capital goiana, trabalhou na tal livraria e abriu uma pequena loja de discos em uma estação rodoviária. O negócio cresceu e do relacionamento que criou no meio musical, iniciou sua carreira de cantor.

No começo da vida artística, na segunda metade dos anos 1970 e nos anos 1980, cantou em vários rincões do País, inclusive áreas de garimpo. Participou ativamente de programas de auditório, de Chacrinha a Raul Gil. Conhecia Sérgio Reis antes de fazer sucesso – o sertanejo frequentava sua loja de discos.

Em uma entrevista que deu em 2013 à Marília Gabriela, disse que recebia indenização fazia tempo do governo por conta da prisão na ditadura. Nessa mesma entrevista afirmou que “mereceu” ser torturado.

Quatro anos depois, dessa vez em entrevista a Fábio Porchat, defendeu o regime militar. Tratou também de declarar publicamente apoio a Bolsonaro nas eleições.

Nesse período na presidência, Bolsonaro manteve encontros com Amado Batista. O mais notório foi quando o presidente deixou de ir numa reunião com CEO da Pfizer da América Latina para negociar compra de vacinas contra o coronavírus para um País assolado pela pandemia para participar de uma cerimônia da Embratur com a presença do cantor.

A biografia de Amado Batista de 2010 para cá deverá ser atualizada pela história. Ocupará um lugar de destaque no bolsonarismo – e pode se tornar o artista-símbolo do movimento político de extrema-direita.

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