Cultura

Carlinhos Vergueiro encontra uma nova geração

O cantor e compositor, parceiro de Chico e Adoniran, completa 45 anos de carreira

Carlinhos Vergueiro (Foto: Maísa Aguiar/Divulgação)
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Carlinhos Vergueiro tem um invejável repertório de composições em parceria com grandes nomes da música brasileira. Desde 2017, quando voltou a morar em São Paulo, passou, porém, a compor com uma nova geração do samba.

Em 2019, o cantor e compositor completa 45 anos de carreira – quando largou o emprego na Bolsa de Valores de São Paulo para viver exclusivamente de música. Naquele longínquo 1974, Carlinhos apresentou seu primeiro LP “Brecha”. No ano anterior ele chegou a lançar dois compactos, mas ainda não se considerava profissional.

Apesar de formar várias parcerias musicais ao longo da carreira, curiosamente tanto o primeiro LP quando o segundo (“Só o Tempo Dirá”), lançado em 1975, todas as músicas são somente de sua autoria.

Aliás, no trabalho de 1975, uma faixa não é composição sua: trata-se de um choro, do compositor José Leocádio.

“Foi um pedido (para entrar o choro) do produtor do disco, o Pelão (João Carlos Botezelli)”, lembra.

Foi somente no trabalho colocado no mercado no ano seguinte que vieram as primeiras parcerias gravadas, como aquela com Toquinho em “Camisa molhada”.

Depois surgiram muitas outras. Com Chico Buarque saíram “Nosso Bolero” e “Leve”. Com Adoniran Barbosa, a clássica “Torresmo à milanesa”.

Com Vinicius de Moraes e Toquinho, fez “Porque Será”. Carlinhos Vergueiro se juntou a Elton Medeiros e Paulo César Feital para construir a belíssima “Mais Feliz”.

Tem ainda parcerias musicais com João Nogueira, Paulinho da Viola, Sueli Costa, Paulo César Pinheiro, Martinho da Vila, entre outros. Compôs com o poeta Cacaso. Fez uma música com um parceiro improvável, Carlos Colla, autor de sucessos românticos. Também compõe com a filha, Dora.

O mais frequente parceiro foi, no entanto, J. Petrolino, pseudônimo de Aluizio Falcão, que chegou a ser sócio da emblemática gravadora Discos Marcus Pereira. O LP “Contra Corrente”, de 1978, só tem composição da dupla. Os dois eram amigos de boemia.

Futebol e samba

“As minhas parcerias foram acontecendo. Não tinha ansiedade”, diz. “Mas o futebol é muito importante na minha vida. Fiz muitas parcerias por causa dele”.

No campo de futebol society Politheama, de Chico Buarque, joga desde a fundação, há cerca de 40 anos. “Continuo indo lá quando vou ao Rio. Mas mesmo antes já jogava bola com o Chico”, lembra.

Carlinhos Vergueiro canta “Torresmo à Milanesa”, parceria com Adoniran Barbosa:

O cantor e compositor tem 21 álbuns solos. Vergueiro tem orgulho de ter convivido com sambistas históricos. É o caso de Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini, que acabou gravando discos sobre a obra de cada um.

Ele ainda produziu o último trabalho de Nelson Cavaquinho, “As Flores em Vida”, e lançou um disco com músicas dele em 2011. O único registro fonográfico de Geraldo Filme também foi produção sua.

Com Cartola nunca fez nada, embora tenham sido muito amigos, e ele ter tocado no Zicartola, bar de vida curta do genial compositor carioca. “Sonho ainda gravá-lo. Com 16 anos fiz música em homenagem a ele”.

Hoje, em São Paulo, Vergueiro constrói uma nova lista de parceiros no samba. Nela, consta Cadu Ribeiro e Gregory Andeas, do ótimo grupo Trio Gato com Fome – são 11 composições até agora.

O terceiro integrante do Trio, o violonista Renato Enoki, produziu um show de Vergueiro. O jovem Trio Gato com Fome prepara seu terceiro álbum e deve gravar o resultado dessa parceria.

Com Arthur Tirone, o Favela, criou cinco músicas, duas delas assinadas também com o jornalista Bruno Ribeiro – uma delas, a “Tô aí”, é um ótimo samba-crônica e trata da peleja dos dias atuais.

Já com Douglas Germano, um dos maiores autores de samba da atualidade, fez de novo algumas músicas. É que em meados da década de 1990 eles haviam compostos juntos, inclusive uma com a presença do instrumentista João Poleto.

Vergueiro: “Compor me arrepia” (Foto: Nina Jacobi/Divulgação)

Novos e velhos parceiros

Essa aproximação com novos compositores se deu no futebol, quando na volta à capital paulista passou a jogar no Madruga Futebol e Samba, pelada que ocorre semanalmente, das dez à meia-noite, com a presença de boleiros-sambistas.

“Esse pessoal conhece o samba que eu fui acostumado a cantar. Eles sabem tudo. Eles cantam meus parceiros e meus amigos”.

Sobre o hábito de desenvolver parcerias na música bastante variada, ele diz ter a mesma “sensação”, seja de um músico conhecido ou não. “Fico felicíssimo. Alegria mesmo”.

Vergueiro afirma ser muito bom quando a música passa a ser reconhecida: “Mas o primeiro passo é fazer. É indescritível. Fico até arrepiado (mostra o braço…). Só quem faz, sabe”.

Entre os projetos deste ano está a comemoração dos 45 anos de carreira, seja por meio de shows ou novo disco (ou os dois). Gravar com parceiros de São Paulo antigos e novos, e homenagear Nelson Gonçalves, que faz 100 anos de nascimento, completam os objetivos.

Para pôr em prática esses projetos, porém, Carlinhos Vergueiro vê entraves na obtenção de recursos e critica o crescente abandona da cultura no País.

“Mas não posso ficar preso a isso. Tem que buscar alternativas, continuar conhecendo gente nova e estar aberto a fazer música”, finaliza.

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