Cultura
Bukky Bakray, uma nova estrela
A atriz descoberta aos 15 anos em uma escola de teatro em Londres pode ser vista em três novos projetos


Aos 15 anos, Bukky Bakray estava na aula de teatro em uma escola na região leste de Londres quando avistou duas figuras desconhecidas no fundo da sala. “Pensamos que fossem inspetores da Secretaria de Educação”, diz ela. “Os ignoramos e seguimos.”
Tratava-se, porém, da diretora de cinema Sarah Gavron e a diretora de elenco Lucy Pardee, que estavam visitando escolas à procura de jovens atores para a sequência do drama histórico As Sufragistas (2015). Bukky destacou-se entre as centenas de alunos observados e foi escalada para seu papel de estreia, em Rocks (2019).
Bukky teve uma atuação incrível como a adolescente Olushola “Rocks” Omotoso, que tem de cuidar do irmão mais novo depois de serem abandonados pela mãe, solteira. Correndo pelo leste de Londres – a uns poucos quilômetros da casa de Bukky –, Rocks pede ajuda aos amigos da escola para evitar a assistência social.
Parte história edificante, parte drama doméstico, Rocks tem um realismo comovente, que se deve, em especial, à emotividade que a atriz emprestou ao filme. Desde então, Bukky tem vivido um turbilhão. Sua atuação foi aclamada pela crítica e ela tornou-se, em 2021, a mais jovem vencedora de um prêmio da academia britânica (Bafta).
Agora, aos 20 anos, está à porta do sucesso internacional, estrelando o thriller Excluídos, da Netflix, e a série dramática Conexões, da Apple TV+ – ambas lançadas nas plataformas na semana passada. Em Londres, também estreou no teatro, com Sleepova.
“Tudo aconteceu muito rápido”, diz. “Quando consegui o papel em Rocks, eu queria ser atriz tanto quanto queria ser chef depois de assistir a MasterChef. Era tudo apenas um sonho que, de repente, se tornou realidade. Tenho sorte de que agora é minha profissão, mas ainda tenho de fazer testes, como todo mundo.”
“Quando consegui o papel em Rocks, eu queria ser atriz tanto quanto queria ser chef depois de assistir a MasterChef”, brinca
A jornada da escola de teatro a estrela foi rápida e Bukky, quando fez Rocks, não pensou nisso. “Ninguém do elenco realmente se preocupou se alguém iria se importar com o filme, já que, se fizéssemos isso, a alegria de fazê-lo desapareceria”, diz. “Eu só sabia que precisava tirar o máximo proveito do processo e não me preocupar com o resto.”
Esse pragmatismo permanece. Bukky tem a fala mansa e os pés no chão. Vestida com um moletom preto, muitas vezes olha para o chão enquanto pensa e fala. Segue morando com a família e iniciou uma graduação em arte: “Se eu quisesse sair de casa, poderia, mas preciso ir no meu próprio ritmo, então estou indo devagar”.
Bukky lembra-se bem do momento em que entrou em um avião, pela primeira vez, para promover a estreia de Rocks no Festival de Toronto e também da decepção ao se ver na tela. “Achei que era uma perda de tempo e dinheiro para todos”, diz. “Fiquei desapontada. Tive de me acostumar a me ver na tela.”
Deve ter sido especialmente difícil observar a si mesma em momentos de vulnerabilidade. “Quando filmamos as cenas emocionantes, meu cérebro não entendia o que estava acontecendo. Meu corpo apenas as fazia”, diz. “Rocks me fez entender como os sentimentos podem ser espontâneos, e isso pode ser difícil de assistir.”
O desempenho cru em Rocks transformou seu rosto em um dos preferidos dos jovens londrinos, mas suas escolhas posteriores parecem destinadas a romper com qualquer estereótipo.
Em Excluídos, ela interpreta uma figura perturbadoramente misteriosa confrontando uma mulher negra que tenta suprimir seu passado. Em Conexões, é arrastada para uma trama internacional de ciberterror. “Tem sido divertido descobrir diferentes Bukkys”, diz. “Esse tipo de projeto com grande orçamento permite que você construa o mundo como quiser. Quando filmamos um acidente de trem, eles realmente tinham um trem inteiro no set!”
Caçula de quatro irmãos de uma família do bairro de Lower Clapton, Bukky cresceu com um apurado senso de criatividade. “Eu e meus irmãos nos chamamos de ‘Black Sopranos’, porque estávamos sempre no porão de casa discutindo nossos planos de negócios”, ri. “Tínhamos de pagar tudo sozinhos, então estávamos sempre nos virando. Meu trabalho paralelo era maquiar pessoas por dinheiro. Comecei a fazer isso quando tinha 14 anos e ganhava 60 libras por semana. Na época das formaturas, ganhava cerca de 500 libras – era incrível! Esse foi o primeiro gostinho que tive de ganhar dinheiro com minhas habilidades artísticas.”
Hoje, segue tentando priorizar seu lado artístico: “Por isso escolhi estudar arte, não teatro. Quero continuar aprendendo de maneiras diferentes”, explica.
Tendo trabalhado duramente desde Rocks, ela também tem planos de tirar uma folga e viver a vida de uma jovem de 20 anos. “Meu trabalho não me permite planejar nada com antecedência, então estou me tornando uma dessas pessoas que, simplesmente, se levantam e vão. Acabei de voltar de férias na Jamaica, que reservei apenas alguns dias antes”, diz. “Mas esse é um champagne problem (a escolha entre duas coisas igualmente desejáveis). Nem acredito que estou falando assim!”
Mas Bukky está gostando da mudança. “É uma bênção fazer um trabalho que pode levar as pessoas a terem sentimentos profundos”, diz. “Só quero continuar mudando de forma, e mal posso esperar que as pessoas descubram as novas versões de mim.” •
Tradução: Luiz Roberto M. Gonçalves.
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1249 DE CARTACAPITAL, EM 8 DE MARÇO DE 2023.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Bukky Bakray, uma nova estrela”
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