“Brutal demais” para o Louvre, escultura vai para o Pompidou

Museu parisiense considerou peça que simboliza ato sexual obscena demais para seu público. Diante da recusa, Centro Pompidou de arte moderna recebe obra

Pedestres passam em frente à obra "Domestikator", de Joep Van Lieshout, instalada no Pompidou

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Uma escultura de 12 metros de altura, rotulada por muitos como obscena e que acabou rejeitada pelo Museu do Louvre como “brutal demais”, encontrou nova casa no Centro Pompidou, também em Paris.

Intitulada Domestikator, a obra geométrica do artista holandês Joep van Lieshout mostra uma figura humana na cor vermelha que aparentemente tenta penetrar por trás uma criatura de quatro patas.

A peça deveria inicialmente ser exposta no Jardim de Tuileries, adjacente ao Louvre, como parte da Feira Internacional de Arte Contemporânea (Fiac), realizada anualmente na capital francesa. Mas no último minuto, o presidente do museu, Jean-Luc Martinez, se negou a receber a escultura.

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Numa carta aos organizadores da Fiac, Martinez disse que postagens em redes sociais sobre a obra haviam criado “uma percepção errônea desse trabalho, que pode ser brutal demais para o público tradicional do Jardim de Tuileries”.


Pierre Bachelot, da Galeria Carpenter´s Workshop e que representa Van Lieshout, disse que o Louvre alegou que a obra poderia chocar visitantes. “É arte, então é preciso abrir a cabeça.”

Diante da rejeição do Louvre, museu mais visitado do mundo, o também parisiense Centro Pompidou – conhecido por sua fachada repleta de tubos coloridos e que abriga arte moderna – decidiu receber a escultura.

A obra foi definida pelo diretor do Pompidou, Bernard Blistene, como “uma utopia magnífica em harmonia com o espaço público”. “Obscena? Pornográfica? Bem, obscenidade está por toda parte, a pornografia, infelizmente, está por toda parte, certamente não nesta obra de arte.”

Domesticação do mundo

A escultura foi revelada na terça-feira 17 diante do Pompidou. Na quarta-feira 18, visitantes do local puderam admirar a enorme peça de madeira, aço e fibra de vidro.

“Acho que ela pertence a qualquer lugar. Serve para ser olhada e discutida, para fazer com que as pessoas saiam de seu estado de sonho”, disse a turista canadense Rita Sliven. “Ela faz a gente sorrir”, disse Sylvain Tailaon, também canadense.

Van Lieshout disse estar contente com o fato de que visitantes do Centro Pompidou terão a chance de ver seu trabalho. “Espero que ele gere perguntas e diálogo em torno das questões levantadas pela domesticação em nosso mundo.”

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Segundo o artista, o título Domestikator representa a domesticação da Terra pelo ser humano e a evolução da robótica e do big data. A peça já havia sido exposta durante três anos em Bochum, na Alemanha, sem gerar controvérsia.

Apesar de a Domestikator já ter sido revelada, a 44ª edição da Fiac começa oficialmente nesta quinta-feira e vai até domingo. Mais de 70 esculturas foram instaladas em Paris para o evento.

Esta não é a primeira vez que uma peça exposta por ocasião da feira de arte gera polêmica. Em 2014, uma enorme escultura inflável representando um brinquedo sexual foi vandalizada e teve de ser colocada sob guarda.


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