Cultura

Blog do Erasmo de Roterdã

Em uma coisa eu e o meu xará Erasmo Carlos concordamos: bom mesmo é ser feliz e mais nada. O problema é o que fazer para atingir a tal da felicidade

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Em uma coisa eu e o meu xará Erasmo Carlos concordamos: bom mesmo é ser feliz e mais nada. O problema é o que fazer para atingir a tal da felicidade. Eu me dediquei a responder essa pergunta. E depois de muito estudo descobri que os homens que se entregam à sabedoria são, de longe, os mais infelizes. Mas aí já era tarde, caí no Prozac e fui fazer terapia de grupo.

Você que está na faculdade, cursando um MBA, fazendo uma pós, um doutorado. Você que devora jornais, livros e revistas em busca de informação e conhecimento há de contestar tal ideia. Eu sei. É difícil aceitar que tanto investimento de tempo e dinheiro nos leve apenas a virar fãs de carteirinha da cantora Maysa.

O leitor culto e triste há de perguntar por que os parvos, imbecis e as antas são mais felizes. Ora, não é preciso sofisticar a resposta. Nem quero seguir aqui promovendo a infelicidade. Peguemos um exemplo popular. Quem é mais feliz? O corno que se sabe corno ou o corno que desconhece seus chifres? Um mal não é um mal para quem não o sente. Não considero que o pior cego é aquele que não quer ver. Pra mim, o pior enxergador é aquele que anseia ver tudo.

Me parece óbvio que um telespectador assíduo do Domingão do Faustão é bem menos atormentado do que um estudioso de Kant. Também é claro como o dia que terei mais diversão numa sessão de Homem de Ferro 3 do que vendo o Sacrifício de Tarkovski. O que é mais excitante: um chá na Academia de Letras ou uma balada sertaneja? Você pode objetar dizendo que são prazeres diferentes. Ao fazer isso, você estará usando a razão só pra aprofundar sua infelicidade. Insisto, a sabedoria está em não ser sábio.

Mas por que razão estou aqui a retomar uma tese que formulei por volta de 1500 d.C.? Boa pergunta. Sinal de que você é realmente um tristonho elaborado. A era digital colocou lado a lado informações que antes habitavam mundos separados. Numa mesma timeline do Facebook, por exemplo, você encontra o link para um artigo da Nature Magazine sobre o universo em expansão e logo mais embaixo um vídeo do conjunto Bonde das Maravilhas dançando o quadradinho de oito. Vejam o perigo dessa proximidade. Um clique o leva para o caminho da dança, da sensualidade e da alegria, e o outro aos antidepressivos. É preciso ter muito cuidado e força de vontade para resistir ao chamado do conhecimento.

Desculpem esse papo-cabeça, funesto e, principalmente, paradoxal. Mas alguém precisava fazer esse alerta.

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